Por anos, fomos bombardeados com promessas de como a tecnologia iria revolucionar nossas cidades. Termos como “blockchain”, “inteligência artificial” (IA) e “cidades inteligentes” apareceram em campanhas de marketing, conferências e painéis futuristas. Mas a realidade parecia sempre distante: muitas dessas ideias soavam mais como ficção científica do que como soluções para os desafios reais que vivemos todos os dias nas cidades.
O conceito de cidade inteligente, na prática, não é novo. Desde os anos 60 e 70, governos e empresas vêm tentando usar tecnologia para melhorar a vida urbana — desde semáforos programáveis até sistemas complexos de gestão de energia e transporte. Mas boa parte dessas soluções se concentrava apenas em colecionar dados ou instalar sensores, sem trazer mudanças significativas para os cidadãos comuns.
Hoje, finalmente estamos vendo uma nova fase: a tecnologia está sendo aplicada para resolver problemas concretos, com foco nas pessoas. A inteligência artificial e o blockchain têm papéis centrais nesse movimento. Mas agora o foco mudou: em vez de mostrar quão futurística pode parecer uma cidade, a pergunta passou a ser “como podemos tornar nossas cidades mais humanas, mais justas e mais eficientes?”.
A inteligência artificial, por exemplo, já mostra resultados impressionantes. Cidades ao redor do mundo estão usando IA para prever congestionamentos e otimizar os semáforos em tempo real, para reduzir emissões e melhorar o fluxo de veículos. Outros exemplos incluem prever quando uma ponte ou uma tubulação vai precisar de manutenção antes que quebre, ou distribuir energia de forma mais eficiente para economizar recursos e reduzir custos. É como dar “superpoderes” aos gestores públicos para tomarem decisões mais rápidas e inteligentes.
O blockchain também está encontrando seu espaço, especialmente em áreas que precisam de confiança, segurança e transparência. Em um mundo onde a corrupção, os erros burocráticos e as fraudes podem custar bilhões, o blockchain oferece uma maneira segura de registrar informações e transações, sem possibilidade de alteração. Um contrato registrado no blockchain é imutável, auditável e elimina a necessidade de muitos intermediários.
Um setor que ilustra bem essa revolução é o mercado imobiliário. Tradicionalmente, comprar e vender imóveis é um processo demorado, caro e sujeito a fraudes e irregularidades. É nesse contexto que plataformas como a Propriedade Digital estão inovando. Usando blockchain para registrar propriedades digitais, elas conseguem eliminar muita da burocracia, tornando o processo mais rápido, transparente e seguro. Em vez de semanas ou meses para finalizar uma transação, isso pode ser feito em minutos. E não só grandes investidores se beneficiam: cidadãos comuns ganham acesso mais fácil e seguro à propriedade.

E a junção de IA com blockchain é ainda mais poderosa. A IA pode ajudar governos e empresas a identificar gargalos e planejar soluções, enquanto o blockchain garante que essas soluções sejam registradas e executadas de forma justa e verificável. Imagine um sistema de habitação pública que usa IA para prever a demanda por moradia em determinadas regiões e blockchain para garantir que a distribuição dessas unidades seja feita sem favorecimentos ou desvios.
Outro aspecto importante é a necessidade de colocar as pessoas no centro dessa transformação. Muitas iniciativas anteriores falharam porque priorizaram a tecnologia em si, e não os problemas reais das pessoas. Moradia acessível, mobilidade eficiente, redução das desigualdades, acesso à informação e participação cidadã são temas que precisam guiar qualquer projeto de cidade inteligente.
Além disso, a tecnologia deve ser inclusiva. Ela não pode ser apenas para os mais ricos ou para quem tem acesso a recursos digitais sofisticados. O exemplo da Propriedade Digital mostra que é possível usar blockchain para democratizar o acesso à propriedade, reduzir barreiras para os pequenos compradores e ajudar comunidades inteiras a se regularizarem e se integrarem à economia formal.
Outro fator crucial é que a tecnologia deve ser usada com ética e responsabilidade. O excesso de coleta de dados, a vigilância abusiva e o uso discriminatório de algoritmos podem transformar uma cidade inteligente em uma cidade opressora. Por isso, a implementação de IA e blockchain deve sempre respeitar princípios de privacidade, equidade e governança transparente.
Essa transformação não é apenas tecnológica, mas também cultural e política. É preciso que governos, empresas e cidadãos trabalhem juntos, discutindo prioridades, compartilhando dados de forma segura e colaborando para construir soluções que atendam ao bem comum. O futuro das cidades será moldado não apenas pelos sensores e algoritmos que usamos, mas pelo propósito que damos a eles. A IA e o blockchain são apenas ferramentas — cabe a nós decidir como usá-las para criar ambientes mais justos, eficientes e sustentáveis.
Em resumo, estamos entrando em uma era onde a tecnologia realmente começa a cumprir a promessa de melhorar nossas cidades, mas só se for usada com intenção, empatia e foco nas necessidades reais da sociedade. As soluções que vemos hoje, como as da Propriedade Digital, mostram que isso é possível — e que o futuro urbano pode ser mais inteligente porque será mais humano.
>> Artigo originalmente publicado por RUBENS NEISTEIN . Confira aqui.