Um alerta para as fintechs mais jovens
Ganhar mercado de forma saudável no segmento de crédito é algo muito desafiador, ainda mais em ritmo acelerado. É comum se ouvir que as fintechs são uma ameaça aos incumbentes, players estabelecidos e tradicionais e, de fato, são mesmo em algumas circunstâncias. Mas, em se tratando de concessão de crédito, a questão vai muito além de somente se contar com a tecnologia de ponta e entregar uma boa experiência aos clientes. Envolve também mensurar riscos, entender para onde o vento sopra, as entrelinhas, garantias e muito mais, coisas que nem sempre um algoritmo, por mais sofisticado que seja, pode realizar.
Recentemente vimos o caso da Stone, uma das fintechs mais bem-sucedidas de pagamentos, que está enfrentando dificuldades em sua frente de crédito, dizendo inclusive que irá paralisar as concessões até que se tenha mais clareza da atividade, postura incomum entre fintechs, o que acabou até mesmo penalizando as ações da companhia. Mas o episódio também chamou a atenção sob outros aspectos.
Entre eles, o de que sucesso em pagamentos não significa, obrigatoriamente, igual êxito na vertical de crédito. E pensar que no caso deles, possuir o pulso dos pequenos empreendedores, em grande parte varejistas, é algo bastante favorável na análise de crédito, o que não livrou a empresa a enfrentar problemas. Provavelmente, eles conseguirão superar este quadro, mas isso serve de alerta para as fintechs iniciantes, pouco estruturadas, e que se encontram em uma posição muito mais vulnerável.
Tudo bem que, no caso da Stone, um dos agravantes foi a falha do novo sistema de recebíveis de cartão, um problema que não é só deles no momento, mas sim de todos os participantes do mercado. As garantias que deveriam ser mais robustas e poderiam ser usadas de maneira flexível – regra do Banco Central lançada em junho, após três adiamentos – ainda se demonstram frágeis.
Enquanto não se desata este nó, como era esperado pelo regulador, muitas credenciadoras e fintechs atreladas a esse produto estão pisando em ovos, enquanto os bancos, como são mais diversificados, conseguem avançar no crédito por intermédio de outras linhas, que não envolvam, necessariamente, os recebíveis de cartões.
Posto isto, devemos refletir e agir na linha da maior quantidade de fontes de informação, algo com que o Open Banking vai colaborar, em certa medida, mas não nos esqueçamos de sempre conciliar o uso das poderosas ferramentas hoje disponíveis com a constante evolução dos níveis de antifraude, checagens, validações, visitas a clientes, os 5 C’s do crédito, pois, por mais que a tecnologia esteja aí , e cada vez mais rápida seja sua evolução, crédito ainda é crédito, e muita percepção assertiva ainda pode vir de atuações analógicas, por isso, complementar a boa e velha análise de crédito às ferramentas de última geração e tecnologia parece ser o melhor caminho.
>>Este texto foi originalmente publicado no Portal de Notícias INFOCREDI 360, confira aqui.