O futuro do sistema financeiro — e, por que não, de qualquer setor — depende cada vez mais de uma escuta ativa, de uma capacidade real de observar onde estão os atritos, onde as pessoas estão perdendo tempo, energia, confiança. E de agir sobre isso.
As coisas acabam. Não por falta de valor. Mas por não fazerem mais sentido no cotidiano das pessoas.
Há um certo romantismo em como lembramos das tecnologias e soluções do passado. Muitas delas, de fato, marcaram época. Eram referências culturais, sociais e até afetivas. A ida ao local, o ritual de uso, a espera pelo resultado — tudo fazia parte da experiência.
Mas, com o tempo, a rotina muda. A urgência se impõe. E a tolerância ao incômodo diminui.
A verdade é que a maioria das coisas não acaba porque deixou de ser útil. Acaba porque deixou de ser conveniente. Porque passou a exigir mais do que deveria. Porque começou a oferecer uma experiência que já não se encaixa na expectativa de quem a utiliza.
E a experiência, hoje, é parte essencial do valor.
Vivemos em um mundo onde o tempo é o ativo mais escasso. Onde a atenção é fragmentada, e a paciência, limitada. As pessoas — clientes, cidadãos, usuários — não estão mais dispostas a aceitar processos pesados, presenciais, lentos ou que pareçam não conversar com o resto da vida digital que levam.
Nesse contexto, o que sobrevive não é o mais robusto. Nem o mais tradicional. É o que se integra melhor. O que resolve de forma fluida. O que respeita o tempo, o contexto, o momento.
No sistema financeiro, essa dinâmica é particularmente sensível. Muitas estruturas ainda se apoiam em processos que foram criados para um mundo que já não existe. Protocolos pensados em uma era analógica, que hoje geram atrito, insegurança ou simplesmente desinteresse.
Se a experiência exige etapas demais, validações em excesso, interações que não se conectam… ela já está perdendo espaço. Ainda que o produto seja tecnicamente bom. Ainda que o resultado final funcione.
E é por isso que o futuro do sistema financeiro — e, por que não, de qualquer setor — depende cada vez mais de uma escuta ativa. De uma capacidade real de observar onde estão os atritos. De antecipar onde as pessoas estão perdendo tempo, energia, confiança. E de agir sobre isso.
Conveniente não é superficial. Conveniente é inteligente.
A jornada importa. A fluidez importa. A forma como um serviço se insere na vida das pessoas importa.
Inovações surgem o tempo todo. Mas só permanecem aquelas que melhoram, de verdade, a experiência. Que tiram o peso, o cansaço, a frustração — mesmo que de maneira invisível.
O que não se adapta a essa lógica inevitavelmente acaba. Pode levar um tempo. Pode parecer resistente. Mas acaba. E não porque era ruim. Mas porque ficou difícil demais de continuar.
>>Artigo publicado na Época Negócios, confira aqui.