Esta foi a provocação que norteou o Webinar sobre as “Tendências de Inovação Financeira para 2023” e para convidar especialistas da indústria financeira visando discutir o tema.
Este é uma síntese dos comentários e conclusões trazidas no mencionado Webinar, em que fizemos um promissor painel em que exploramos as tendências e inovações que devem se desenvolver e impactar a indústria financeira em 2023.
Para projetar o que deve ganhar relevância ao longo de 2023 convidamos 2 grandes especialistas de inovação e líderes no ecossistema de startups, podendo assim trazer suas contribuições e debater com profundidade as suas visões e frentes nos quais trabalharão.
Um destes ilustres convidados é o Diego Perez, Presidente da ABFintechs e outro, o Rodrigoh Henriques, Diretor (onipresente) de Inovação da Fenasbac.
Mas primeiro, como foi a inovação em 2022…
Inicialmente, abrindo este grande debate informal, foi feita uma provocação para cada um sobre o que mais surpreendeu, o que mais marcou, e provocou maior transformação no ano de 2022, e que, portanto, um bom ponto de partida de algo que deve acompanhar e repercutir em 2023.
Várias iniciativas foram destacadas, mas os principais pontos foram:
– Consolidação da Agenda BC# como instrumento inequívoco de digitalização: Maior entendimento e completo consenso da visão e firmeza da estratégia do Banco Central, que caminha cada vez de forma mais acelerada, assim como na geração de benefícios de forma irrefutável. Com estas realizações consolidadas em 2022, cada vez o mercado enxerga a Agenda como algo inexorável.
– Outro ponto foi o sucesso do Pix que surpreendeu a todos pela velocidade do seu crescimento e impacto nos meios de pagamentos, de forma que em função de sua conveniência, em menos de dois anos superou todos os demais instrumentos, inclusive o uso do próprio cartão. Além do recorde de crescimento – que atinge agora movimentação de quase 3 bilhões de transações mensais – o Pix se revelou um projeto bem desenhado e eficiente, e, acima de tudo conduzido de forma a integrar todo o ecossistema da indústria através de um processo participativo com todo o mercado.
– O Open Banking também evoluiu, ampliando o escopo e vai se transformando no Open Finance com a mobilização e inclusão de outras verticais, amplificando bastante a sua atuação e consequentemente o seu poder de transformação na medida que cada vez mais conecta várias outras Indústrias. Originado dentro da indústria financeira o Conceito do OpenBanking vai influenciando os modelos e estratégias de negócio em um mundo de crescente interoperabilidade.
– E por último e não menos importante, foi iniciado o projeto de CBDC Brasileiro, o chamado Real Digital, uma visão de aproximação e integração do mundo DeFi com o sistema financeiro, buscando aproveitar o melhor dos 2 mundos. Trata-se de uma grande iniciativa que se apenas começou em 22, e que com certeza trará evoluções e grandes frutos nos próximos períodos à frente. E por isso, abordaremos o assunto de forma mais detalhada em seguida.
– Importante também destacar como o ecossistema de startups, e notadamente o de Fintechs, continuou crescendo ao longo do ano, cada vez mais estruturado, assim como todo o ecossistema de inovação que vem consistentemente abrindo novas iniciativas cada vez mais amplas. Um dos destaques está no programa do Lift, a iniciativa de laboratório de inovação do Bacen, e recentemente também o Next, uma aceleração coordenada pela Fenasbac, assim como várias aceleradoras outras iniciativas de grupo de anjos e mentores que vêm cada vez mais vem se organizando e oferecendo profissionalismo.
Quais então são as tendências mais relevantes para 2023?
Prosseguindo no webinar de tendências de inovação da indústria para 2023, começamos então a discutir dentro dos vários movimentos quais iniciativas teriam um alto potencial de transformação.
– O primeiro aspecto relevante que merece destaque é a própria jornada de evolução da agenda do Pix. Apesar de já ter abraçado toda a sociedade com mais de 150 milhões usuários ativos – que corresponde a toda população economicamente ativa do Brasil – ele tende ainda a continuar crescendo consistentemente, ampliando a sua utilização dos atuais usuários e ganhando novas adesões, especialmente no B2B. O roadmap e previsão de funcionalidades novas que tendem a ser incorporadas no Pix ao longo do ano, vem gerando ainda mais conveniência e ampliando as possibilidades de uso. O destaque fica com o Iniciador de Pagamentos que se encontra nas fases iniciais de homologação e que trará uma experiência interessante de conveniência de utilização sem falar que deve ainda evoluir para jornadas cada vez mais simples com um potencial de conseguir gerar bastante valor na medida que ele se conecta a todas as plataformas. Tem também o Pix Garantido, o esperado Pix Automático que é a possibilidade de fazer pagamentos recorrentes e ainda com valores variáveis e substituir com muitos benefícios e interoperabilidade serviços hoje restritos de débito automático de pagamento de utilities e tributos, além de várias outras modalidades de boletos programados.
– A disrupção do mercado de Câmbio e remessas internacionais, deve também ter um foco importante, através do estímulo de uma grande desburocratização e enorme simplificação da regulamentação de câmbio, já em andamento. Isto significa uma oportunidade de ganho de eficiência dado o negócio de FX deve ser completamente redesenhado ao longo de 23. Seguindo nesta esteira de forma sincronizada com o redesenho operacional, devemos ter na esteira de melhorias a aguardada conveniência do Pix Internacional. Sem dúvida, temos uma perspectiva de termos uma revolução neste segmento e alavancar fortemente a integração e inovação da indústria no mercado internacional.
– Enquanto existe uma unanimidade no crescimento e sucesso do Pix, o Open Finance remete para percepções difusas em função da sua complexidade e grandes requisitos técnicos que tem gerado atrasos nos cronogramas de implementação. Enquanto 2022 foi um ano muito focado no regulatório e na complexa construção da fundação da infra-estrutura, gerando impactos nos participantes do ecossistema para conseguir avançar até estas fases bem iniciais. Ainda assim ficou claro no debate que ele já tem atraído uma adesão bastante interessante e crescente com mais de 10 milhões de consentimentos registrados e 200 milhões de chamadas de APIs por mês. Isto no mínimo significa que já atrai muitos acessos e experimentação para entendimento e materialização de benefícios através do Open Banking. Então fica evidente que o OpenFinance vale uma aposta para 2023 pois deve começar a alavancar fortemente, sendo incorporado na vida das pessoas, com adesão cada vez maior das instituições na geração de novos serviços inovadores com o uso dos dados compartilhado seguindo através das fases 2 e 3. Além disso, devemos também mais concretamente conferir o potencial da integração com Seguros e Investimentos que começam a andar de forma consistente.
Como o OpenFinance é uma jornada e não um projeto ou produto pronto, demandando por isso fortemente as estruturas de tecnologias, algumas Instituições Financeiras muitas vezes por serem menores e não terem participação obrigatória, muitas vezes ficam aguardando para se inserirem quando o ecossistema tiver mais robustez, o que pode ser uma estratégia equivocada na medida que requer tempo e aprendizado para de fato poder explorar o potencial desta nova plataforma.
Comentado rapidamente também sobre a gradativa tendencia de monetização dos dados através uma maior consciência do próprio cliente do valor de seus dados, exigindo em troca do consentimento, ou soluções convenientes que lhe tragam algum benefício tangível, ou uma compensação financeira pelo acesso as suas informações.
– Sobre o tema Blockchain, claramente uma tendência crescente da tecnologia em 2023, existem várias óticas promissoras que foram também abordadas.
- Uma ótica relevante se refere a Cryptoeconomia, mercado das moedas digitais, que possuem um crescimento acelerado e uma adesão realmente muito grande, com um consenso que deve acelerar ainda mais agora com a aprovação recente da regulação e com adesão de vários setores, na medida que ela vai oferecer mais segurança ao mercado com a sua entrada e as obrigatoriedades a serem cumpridas pelos players participantes. Tudo indica ser um mundo novo e irreversível que se consolidará em 2023.
- Outra ótica analisada do DeFi foi sobre o Real Digital. Exatamente a iniciativa do Banco Central de utilizar os benefícios da aplicação da tecnologia blockchain para ampliar os escopo de funcionalidades e conveniências dentro da indústria financeira. O desafio é buscar extrair os recursos que o blockchain pode gerar de novos modelos de liquidação e de interoperabilidade para ampliar conveniência através da disrupção de novos casos de uso para o cliente usuário da própria plataforma da instituição financeira. Desta forma objetiva extrair o melhor dos dois lados, ou seja, a segurança e a capacidade de integrar a plataforma transacional dos recursos e carteiras do cliente que a indústria financeira oferece, com a flexibilidade e poder de implementação possibilitada pela tecnologia DLT. É um mundo novo que está em modo exploratório, mas em plena evolução dentro das iniciativas do Sand Box coordenado Projeto Real Digital e a iniciativa de do Lift Challenge, justamente para atrair esses casos de uso propostos pelo mercado, e permitir que sejam experimentados e entendido os seus efeitos e benefícios, para a partir disso serem regulamentados e disponibilizados para a sociedade.
- Outra vertente importante na exploração de soluções DeFi que deve ser aprofundada em 2023 corresponde a Tokenização.
A possibilidade de fragmentar os Ativos Financeiros Digitais já começou a ser realizada intensamente em 2022. Existe uma tendência agora de evoluir os processos para aplicação estruturada e massiva de tokenização também de Ativos Reais, que deve impulsionar, desburocratizar o processo e aumentar globalmente a liquidez destes ativos reais. Isto se torna viável com segurança na medida em que os todos os ativos, seja um imóvel, um automóvel, uma instalação Industrial ou maquinário, podem ter uma representação digital e desde que seja possível construir uma conexão também digital junto ao órgão regulador correspondente para que gere um lastro adequado para permitir o vínculo com cada token. Neste sentido acreditamos que isto deve ganhar a forma e impulso em 2023, pelos benefícios, eficiência e flexibilidade que proporcionam estas estruturas.
A expectativa dos melhores casos de uso oriundos do Real Digital e modelos eficientes de Tokenização, devem ser evidenciados em 2023 para ser tornarem realidade em 2024, ganhando escalabilidade e apresentando um mar de oportunidades e iniciativas que nem podemos supor agora.
Concluindo, temos enorme potencial de inovações que devem se exponenciar com uso da plataforma blockchain ao longo de 2023, pela possibilidade de eliminar várias barreiras de acesso, provocando uma desintermediação de forma fluida e contribuindo com aumento de eficiência da indústria financeira tradicional.
– Prosseguindo nessa esteira renovação disruptiva outro tema surgido foi a capacidade de inovação real do Metaverso . Ou seja, o que por traz do hype tem de potencial que pode surgir em 2023 para indústria financeira. Temos constatado, que por trás do marketing e muita exposição sobre o assunto, poucas iniciativas reais têm surgido na indústria financeira, ao contrário do que pode ser verificado na indústria de entretenimento, games e artes. A única exceção verificada corresponde a iniciativa do Banco do Brasil, mas que também aparentemente sem uma aplicação relevante até então. Fica um pouco a conclusão de que ainda é algo que não está maduro o suficiente para ser absorvido e gerar valor com clareza na indústria financeira, ao menos em 2023. Não esperamos, portanto, encontrar alguma contribuição mais ampla desta nova tecnologia na indústria financeira neste horizonte de curto prazo.
O Ecossistema de inovação esta cada vez mais forte e promissor
Por outro lado, para novos modelos de negócios, o ecossistema de startups encontra hoje uma maior infra de suporte (que talvez não fosse uma verdade a algum tempo atrás). Então hoje existe uma verdadeira estrutura tanto do lado das associações e comunidades (a ABFintechs, é um bom exemplo disso) para todo tipo de startups e uma verdadeira indústria de inovação com aceleradoras e incubadoras, inclusive com patrocínio do Banco Central, de forma que hoje qualquer empreendedor tem um leque amplo de mentores de entidades para poder ajudá-lo no seu desenvolvimento para acelerar esse amadurecimento e promover um aprendizado mais rápido e tudo que precisa está disponível para essa evolução.
Finalmente, abordamos ainda sobre esta fase de “inverno” de investimentos em startups e o quanto que ainda tem espaço e alternativas para continuar promovendo o crescimento das fintechs. Um pouco da conclusão foi que de fato existe uma certa restrição especialmente para tickets maiores, de Série B em diante, ou seja, afetando mais aquelas operações que já estavam um tamanho muito grande, mas ainda financiando o seu caixa através de rodadas sucessivas de investimento. A consequência pratica disso é muito mais do aumento de exigência do investidor, ou seja, ser mais criterioso ao exigir modelos mais estruturados e com uma governança melhor. Não aceitar apenas boas teses, mas também uma visão mais estruturada do negócio e, no fundo, tudo isso deve provocar uma redução na mortalidade das startups early-stages, gerando negócios mais saudáveis.
Estas devem ser as principais tendências de inovação da própria indústria financeira, no entanto, existem por outro lado evidentemente outros temas super relevantes de tecnologia que poderiam ser discutidos, tais como: o potencial que a expansão do 5G irá propiciar conexão com sensores e dispositivos inteligentes para monitoramento e entrega de serviços conectados com o fluxo financeiro, colaborando para a própria transformação digital completa da jornada de serviço, a I.A. e sua capacidade transformação dos dados compartilhados com os clientes em oportunidades e decisões de negócios de forma personalizada, as novas técnicas de biometria e autenticação conferindo patamares mais elevados de segurança sem gerar fricção, etc.
Então temos muitas outras iniciativas que devem aflorar e crescer ainda mais em 2023, e que tanto irão contribuir para a evolução da indústria financeira. Esse portanto, é apenas um rápido panorama do que nós vimos e acreditamos que devam ser as principais tendências que devem se materializar e florescer em 2023.
Temos certeza também que o ano novo será tão prodigo de novidades quanto foi 2022.
Existe um consenso dos especialistas do quanto tem sido um privilégio ter conseguido participar desse processo de transformação da indústria financeira, e que em 2023, ele deve acelerar ainda mais, trazendo muito mais novidade para o benefício do mercado, dos clientes e da sociedade… Quem viver verá!