“Quem tem um porquê enfrenta qualquer como.”
Frederick Nietzsche Tweet
Abril terminou em Londres, e por isso esta carta chega um pouco depois do habitual. Mas não poderia deixar de registrar o que foi um mês crucial para compreender os rumos da inovação financeira global e as inflexões econômicas que vêm redesenhando o tabuleiro internacional.
Duas tendências se cruzaram com força em abril: de um lado, a consolidação das stablecoins como alternativa viável e crescente nas transações globais, inclusive com lastro em reais, como a BRZ da Transfero e a BRL1, listada na Foxbit. O caminho das stablecoins parece irreversível, especialmente no câmbio. Os grandes bancos brasileiros já se movimentam para lançar suas próprias versões. E Itaú e Bradesco anunciaram compras expressivas de Bitcoin, mostrando que a institucionalização cripto deixou de ser tese para virar prática.
De outro lado, a tensão comercial reacendeu: os EUA, sob nova onda protecionista, impuseram tarifas pesadas e voltaram a mirar a China. O Brasil, naturalmente impactado, respondeu com movimento diplomático: a visita presidencial a Pequim selou novos acordos de infraestrutura e exportação. É impossível desconectar esses pontos tarifas, câmbio, cripto e o lugar do hemisfério sul.
Vivemos uma rara janela geopolítica em que países como o Brasil podem se reposicionar com inteligência e colher resultados efetivos.
Missão Londres: da abertura global às lições do Revolut
Encerrando o mês, estive em Londres na UK Fintech Week, integrando a delegação latino-americana organizada pelo Department for Business and Trade (DBT) britânico ao lado de líderes como Diego Perez (ABFintech) e Bruno Diniz (Open Finance Brasil). Fui acompanhado de Alysson Guimarães, CEO da LeverPro, startup da qual sou mentor pela Bossa Invest e co-investidor.
Logo na abertura, participamos do Global Forum Fintech, que trouxe discussões de alto nível técnico e institucional. Entre os temas debatidos:
• Lições das fintechs unicórnios de crescimento mais rápido do Reino Unido;
• Agenda regulatória da FCA para os próximos cinco anos;
• Blockchain e ativos digitais no futuro dos serviços financeiros;
• O papel do Open Banking na proteção e uso de dados dos consumidores;
• Aplicações de IA e Machine Learning em serviços financeiros.
A programação seguiu com o IFGS – The Voice of Global Fintechs, onde ficou claro o compromisso do Reino Unido com inovação responsável e interoperabilidade global.
Mas o momento mais simbólico da missão foi, sem dúvida, a visita ao Revolut. Tive a chance de ouvir Vlad Yatsenko, cofundador da fintech mais valiosa do Reino Unido. Em tempos de founders de palco, Vlad é o oposto: técnico, obstinado, objetivo. Como diz um amigo meu, “para ter sucesso nesse jogo, tem que ser meio psicopata”. Ao ouvir Vlad, entendi. E me identifiquei.
O Brasil e o efeito juros
Enquanto isso, no Brasil, a elevação da Selic para 14,75% em maio reforçou a preocupação com o controle inflacionário que chegou a 5,5% no mês. Mas o custo vem alto: projeções de PIB já recuaram para 2% em 2025, e a liquidez no mercado de startups e inovação segue apertada.
Fecho abril com a convicção de que, mesmo em um mundo fragmentado, há espaço para conexão estratégica, execução obstinada e crescimento consistente. Em maio estarei no Fórum Bancos & Banking, evento organizado pela Cantarino Brasileiro & ACREFI, onde tive uma pequena participação na curadoria.
Que maio nos traga mais pontes, mais provocações e menos ruído.
Nos vemos na próxima carta.
Abraços,
Gilberto Albuquerque
CEO – Kadmotek Ventures
Posts relacionados:
- CARTA AO MERCADO: MIAMI, LONDRES E SÃO PAULO – O Que Vai Ditar o Ritmo das Fintechs em 2025?
- CARTA AO MERCADO: DESAFIOS E OPORTUNIDADES- STARTUPS BRASILEIRAS NOS EUA E O IMPACTO DA VOLATILIDADE GLOBAL
- O FUTURO DO BRASIL! A VISÃO DE AMY WEBB PARA A INOVAÇÃO NO BRASIL
- O BRASIL E SEU GRANDE MERCADO DE SAÚDE
- SPRINT 19 – NÔMADE DIGITAL EM LONDRES