Nos últimos anos, o mercado brasileiro de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) deixou de ser um instrumento de nicho para se tornar a principal engrenagem de funding das fintechs de crédito.
Em 2021, falávamos em R$ 269 bilhões sob gestão. Quatro anos depois, em 2025, já são mais de R$ 715 bilhões. Essa escalada impressionante mostra como o modelo se consolidou como alternativa real para sustentar a expansão das novas empresas financeiras.
O que são fintechs, afinal?
Fintech é a junção de finance + technology. São startups que usam tecnologia para transformar o setor financeiro. E aqui cabe de tudo:
– Carteiras digitais e instituições de pagamento
– Bancos digitais
– Startups que digitalizam processos financeiros internos — tanto para o consumidor quanto para instituições tradicionais.
Algumas vieram para fazer disrupção direta no mercado, como XP, Nubank, Stone, Neon. Outras cumprem o papel de melhorar a engrenagem do sistema financeiro, criando eficiência em pontos específicos. Exemplos próximos: Flourish, Quadra, Vale:Já (portfólio Kadmotek) ou ainda LeverPro, FiscalCripto, Revisaprev, Receiv (portfólio Bossa).
A vantagem dos bancos tradicionais
Bancos tradicionais têm uma fonte de funding que é ouro puro: os depósitos à vista dos clientes de varejo. Isso lhes garante um capital barato, abundante e estável.
Já as fintechs, especialmente quando operam como SCDs (Sociedade de Crédito Direto) ou SEPs (Sociedade de Empréstimo entre Pessoas), não contam com esse privilégio. O caminho delas é outro — mais caro e desafiador.
O caminho das fintechs até os FIDCs
A jornada de funding das fintechs costuma seguir esta lógica:
1. Capital próprio – suficiente apenas no início.
2. Securitizadoras – permitem estruturar operações para investidores selecionados, mas ainda limitam escala.
3. FIDCs – o verdadeiro salto.
Em outubro de 2023, os FIDCs chegaram também ao varejo, ampliando o leque de investidores e democratizando o acesso. O resultado foi um crescimento tão acelerado que, em 2025, os FIDCs já ultrapassaram os fundos de ações em patrimônio.
Claro, o custo de captação via FIDC é mais alto do que o dos bancos tradicionais. Mas foi o mecanismo encontrado para que as fintechs pudessem competir em um mercado concentrado.
Um levantamento da Elos Ayta, em parceria com a plataforma UQBAR, revela que desde 2018 as emissões de FIDCs somam R$ 933,5 bilhões. Desse total, cerca de 65,5% estão concentrados em três categorias principais:
• Recebíveis Comerciais (R$ 375,8 bilhões),
• Crédito Pessoal (R$ 127,3 bilhões),
• Multiclasse (R$ 108,2 bilhões).
E os números continuam expressivos. O ano de 2024 marcou o maior volume anual da série histórica, atingindo R$ 200,7 bilhões em emissões — um avanço de 31% em relação a 2023, quando o total foi de R$ 153,1 bilhões. Já entre janeiro e agosto de 2025, o mercado registrou R$ 163,7 bilhões, o que representa uma queda de 18,4% em comparação com o acumulado de 2024. Conforme dados recentes do Portal e Investidor.
Conclusão
Para as fintechs com viés de crédito, FIDCs são a engrenagem essencial. No começo, até dá para operar com recursos próprios. Depois, as securitizadoras ajudam a estruturar. Mas a escala real só acontece quando os FIDCs entram em cena.
Sem eles, não teríamos o ecossistema vibrante de fintechs de crédito que existe hoje no Brasil.
E aqui deixo o gancho: você já ouviu falar de TIDCs? Aguarde, porque esse é o tema do meu próximo artigo…