Por que o Open Banking vai alavancar as Fintechs?
(E algo mais sobre o recurso poderoso do rebundling…)
O Open banking traz uma inédita capacidade de integração a partir da estruturação da normalização de conectores (mediante APIs públicas padronizadas) e possibilidade inédita do cliente portar seus dados ao longo do sistema financeiro através de uma experiência digital, de forma simples e sem fricção.
Como sabemos, este modelo reduz significativamente a assimetria de informações do cliente, favorecendo novos entrantes, e consequentemente viabilizando o encaminhamento de novas propostas de negócios competitivas, enriquecidas então pelo acesso e entendimento do perfil de comportamento dos clientes, mediante a autorização concedida através do mecanismo de consentimento.
Ao facilitar o acesso as informações históricas dos clientes, isto promove um grande benefício e estimulo a competição que, por si só, favorece novos entrantes e instituições que estruturam através de tecnologia de dados, como as fintechs, e claro que em tese, também todos os demais players do mercado.
Mas existe algo além. Este movimento com o Open Banking, reduzirá fortemente também o custo de originação de clientes (CAC) pois facilitará a portabilidade e experimentação dos clientes por novos modelos e plataformas, na medida que poderão exercer sua autonomia de transmitir seus dados sem necessitar encerrar ou descontinuar os relacionamentos vigentes, podendo portanto a partir deste momento degustar sem compromisso de continuidade um novo produto ou proposta inovadora de serviço, sem o ônus de rompimento, somente com o benefício de uma experimentação, podendo retomar para o uso do relacionamento anterior, caso a nova oferta não atenda a expectativa do cliente.
Importante lembrar que diversas fintechs hoje possuem muitas vezes produtos melhores que os seus concorrentes tradicionais, com estruturas mais leves e modernas, conseguem invariavelmente pratica preços menores e soluções mais customizadas. Porém existe uma dificuldade no horizonte, uma barreira de saída natural para conversão dos clientes…
Ao contrário do encontrado nas grandes estruturas bancarias, com seus vários multiprodutos construídos de forma ampla para atender todo os segmentos de clientes, formando assim grandes ambientes de solução integradas na mesma plataforma (pratica do conceito de bundling), as startups em geral são focadas em um único produto ou um conjunto limitado de soluções, no qual são especialistas e por isso desenvolvem com obstinação um modelo de negócio que resolva com assertividade uma dor especifica e relevante do cliente.
Este movimento foi consagrado modernamente como uma tendência de especialização na medida que os clientes estão cada vez mais exigentes demandando soluções customizadas.
O crescimento das startups então com sua missão de resolver um problema especifico do cliente de forma extremamente conveniente, provocou uma nova tendência, na medida que trouxe a oportunidade de oferecer ao cliente novas e diferentes alternativas de experimentação e uso, desconectadas da “nave mãe” ainda que muitas vezes com resultados significativos e soluções inovadoras. Este conceito é conhecido como unbundling.
No entanto, como consequência do Open Banking, para o cliente se conectar e usar estes novos produtos criados de novas instituições, ele necessita se desconectar da plataforma que ele está acostumado, e se logar em uma outra solução, gerando um incomodo para contratar e dificuldade para consultar ou gerenciar o serviço. Quanto mais aderir a oferta de serviços convenientes mais fica fragmentado a visão geral e complexa a orquestração dos uso dos produtos de forma independente, trazendo em função da dificuldade gerada um natural transtorno e consequente resistência de adesão dos clientes.
O modelo de arquitetura do Open Banking viabiliza a interconectividade destas plataformas, simplificando a experiência e eliminando as barreiras para experimentação. Através da própria plataforma principal de relacionamento pode-se conectar com as demais de forma fluida e integrada. Cria-se assim o conceito de rebundling, ou seja viabiliza-se uma poderosa interoperabilidade entre diversos serviços de diferentes instituições de forma simples e transparente para o usuário.
Isto permite montar um verdadeiro portfólio de soluções variadas com escolha selecionada dos melhores serviços de diferentes origens, com possibilidade de substituição sempre que isto fizer sentido para o cliente, ou seja, poderá de fato privilegiar a escolha das melhores soluções que atendam a sua necessidade independentemente da localização e origem da mesma, e quanto mais for customizada e especializada no meu negócio e na minha necessidade, melhor!
Esta iniciativa cai como uma luva para modelos de negócio independentes, focados em resolver problemas específicos do cliente, exatamente como é a vocação das fintechs.
Além disso em função da cultura das startups já serem baseadas na construção de experiências desenvolvidas em uma jornada desenhada para um mundo digital, as fintechs possuem uma janela de oportunidade particular de impactar positivamente os clientes e usufruírem de forma destacada deste novo ecossistema sem as antigas barreiras e paradigmas dos incumbentes.
Um claro exemplo disso, é a implantação do modelo de Iniciador de Pagamentos, que permitirá da própria plataforma do iniciador escolhido realizar pagamentos e liquidar seus compromissos cujos recursos estão distribuídos em outras instituições, potencializando o papel de gerenciador de sua vida financeira e permitindo uma série de possibilidades e recursos comandados de um único lugar.
O Open Banking e posteriormente o Open Finance, será um importante e decisivo impulsionador das Fintechs pela liberdade e possibilidade que ele oferece para o modelo de negócios destas empresas de prestação de serviço financeiro com tecnologia.