"O futuro já está aqui — só não está igualmente distribuído."
William Gibson
Começo essa carta ainda com o eco dos corredores do FEBRABAN TECH, que, mais uma vez, se firmou como termômetro de tendências, ruídos e dissonâncias do setor financeiro brasileiro.
Foram três dias com recorde de público, 55 mil visitas, reflexo de um ecossistema que, mesmo pressionado, busca caminhos para inovar em meio a juros altos, riscos fiscais e um IOF que voltou a ocupar manchetes.
Debates sobre IA generativa dominaram painéis, ora exaltada como solução transformadora, ora, como bem lembrou Sandy Carter (que já tive a oportunidade de ouvir duas vezes no SXSW), restrita a um filtro de realidade: apenas 20% dos projetos realmente entregam resultado.
Enquanto isso, o Pix 2.0 e o Drex foram reforçados pelo presidente do BC como pilares de acesso ao crédito, num momento em que o crédito se tornou ainda mais caro.
E, por falar em infraestrutura, tokenização também encontrou palco: a Mastercard projetou atingir 100% de transações tokenizadas até 2030, sinal de que segurança e interoperabilidade seguirão como temas quentes.
Se tem algo que me deixa confiante é ver teses nas quais acredito avançando para além do discurso. A Flourish Fi, startup do meu portfólio, saiu vitoriosa da Arena Fintech, comprovando o valor de soluções de engajamento financeiro em escala global. E, assim como a Flourish Fi, a LeverPro, que também carrego como mentor, mostra que a nova geração de fintechs tem maturidade para crescer no palco grande.
🔍 No macro: uma trégua incerta
No cenário global, os ruídos não deram trégua:
– Tarifas globais voltaram ao radar, com EUA e China testando tréguas parciais e setores como cobre, semicondutores e farmacêuticos na mira de novas sobretaxas.
– Nos EUA, a atividade econômica se mostrou resiliente, mas o choque inflacionário das tarifas ainda pode reaquecer o núcleo do CPI, jogando a expectativa de corte de juros para dezembro.
– Na Europa, o BCE deixou claro que os cortes de juros só avançam com muito pragmatismo, enquanto a Alemanha testa uma nova postura industrial que pode reposicionar o bloco.
Por aqui, a inflação deu sinais de alívio, 0,20% em junho, acumulando 5,32% em 12 meses, mas a Selic a 15% mostra que o custo de empreender no Brasil continua testando nervos e planilhas.
💰 No cripto: Méliuz se coloca no mapa
Junho também trouxe um sinal claro de como criptomoedas deixam de ser “assunto de especulador” para se tornarem parte de uma estratégia de tesouraria.
A Méliuz, que já havia dado o primeiro passo em março, ampliou sua tese ao levantar R$ 180 milhões em oferta subsequente para reforçar sua posição em bitcoin, um movimento inédito para uma empresa listada na B3. É o tipo de jogada que mostra: o balanço das companhias do futuro será cada vez mais híbrido, refletindo a influência de ativos digitais na governança financeira.
✉️ Para quem assiste de camarote
Se a carta de maio falava do teatro geopolítico, junho apenas atualizou o figurino: taxas de juros persistem, narrativas sobre IA e RWAs se cruzam, tokenização avança em camadas discretas, e quem entende o jogo sabe que não existe script fechado.
A cena que fica? Disciplina e ousadia seguem sendo os ativos mais escassos.
Quem constrói para o longo prazo precisa saber quando proteger o caixa e quando colocar o pé no risco.
Julho promete mais capítulos, e quem subestima o enredo sempre vira figurante na própria história.
Quer debater? Sigo aberto para conversas, provocações e, principalmente, para ajudar quem não quer só assistir, mas também escrever o próprio roteiro.
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