Entre os dias 18 e 20 de março de 2025, Miami se consolidou, mais uma vez, como ponto de convergência do ecossistema financeiro latino-americano com a realização do Fintech Americas Miami. Com o tema “Infinite Adaptation: The Code”, o evento cresceu em escopo, estrutura e profundidade em relação à edição de 2024, segundo relatos que ouvi de participantes da edição anterior. Este ano, o evento assumiu não apenas um novo espaço físico, mas também um papel mais central na articulação de tendências, parcerias e debates estratégicos.
O lendário Fontainebleau Hotel cedeu não apenas seus salões tradicionais, mas também a sala de convenções, ampliando significativamente a audiência e o impacto do evento. O que em 2024 era o espaço principal com startups e palcos paralelos, tornou-se agora uma das áreas secundárias, enquanto o novo espaço centralizou conteúdos de alto nível e encontros decisivos.

O Brasil na pauta, mas fora do palco
Embora o Brasil tenha sido frequentemente citado nas discussões , especialmente pelas inovações como o PIX e os avanços no Open Finance, foi impossível não notar a ausência institucional de bancos brasileiros e da indústria de software bancário nacional. Com exceção da Dock, que teve presença de destaque ao conduzir um painel com o Banco Central do Brasil, o ecossistema brasileiro esteve ausente fisicamente, mas presente como referência.
Enquanto isso, países como Colômbia, México, Argentina e Panamá contavam com representantes institucionais e executivos de bancos, fintechs e reguladores. O espanhol se consolidou como a segunda língua oficial do evento, revelando a força da integração regional hispano-americana.
Um evento para negócios, não só para palestras
A estrutura do evento se mostrou eficiente para conexões reais. Além dos painéis principais, havia espaços dedicados a networking dirigido, como o MatchUp Americas, e sessões com especialistas no LeaderTrack, promovido pela McKinsey. A área de exibição de startups não era composta apenas por novatas, mas sim por players de peso no setor. Mambu, Temenos, Kamino, Feedzai, Incoǵnia, LATRO, CEIBO Growth, entre outras, marcaram presença muitas delas interessadas em expandir parcerias com bancos e fintechs da região.
O tom foi claro: explorar a América Latina como bloco, criando sinergias regionais e otimizando estruturas em diversos países. Neste contexto, chamou atenção o interesse de empresas norte-americanas e europeias em operar no continente latino-americano — buscando conexões locais, conhecimento regulatório e novos canais de distribuição.

Destaques Pessoais
Entre os painéis que mais me marcaram, destaco três experiências:
- A entrevista conduzida por Antonio Soares (Dock) com Carlos Brandt (Banco Central do Brasil), dentro do painel “Decidificando la revolución fintech”. Uma conversa madura, realista e estratégica sobre os avanços regulatórios do Brasil e os desafios da região.
- O painel “Casos de Éxito ADN del Crédito”, apresentado por Nicolás Schiaffino, trouxe uma visão estruturada e didática sobre a escalada de operações de crédito digitais, com base em sua experiência na Kavak, tanto no Brasil quanto no México. Um painel com aplicabilidade imediata para qualquer fintech que deseje escalar com responsabilidade.
- O painel “Transferencia Generacional de Riqueza”, mediado por Pedro Felipe Moura, fundador da Flourish, startup na qual sou investidor. Com executivos de instituições como Santa Maria Investment Group, TRADERPAL e Merrill Lynch, a conversa abordou com equilíbrio os desafios modernos da gestão patrimonial e sucessória na América Latina.
Pedro Moura, aliás, teve participação de destaque também no FinTalks, reforçando o papel da Flourish como ferramenta de engajamento para fintechs e instituições financeiras, já presente em cinco países da América Latina, além dos EUA.
Um novo olhar sobre a região
Comparado a eventos como o Money 20/20 Europa (2023) ou mesmo a FEBRABAN TECH, o Fintech Americas Miami 2025 foi uma experiência distinta: mais intimista, mais pragmática e mais voltada para negócios relevantes. Ao invés de uma feira, parecia mais uma comunidade se reencontrando para construir juntos — e isso se reflete no conteúdo e na qualidade das interações.
Ficou evidente, no entanto, que o Brasil corre o risco de isolar-se dentro do próprio protagonismo. O país é referência global em sistemas como o Pix, mas não se faz presente fisicamente em eventos-chave da região, perdendo oportunidades de liderança, parcerias e presença estratégica.
Miami, com seus contrastes e diversidade, segue tentando consolidar-se como a capital da América Latina — e o Fintech Americas, ano após ano, se mostra um dos seus instrumentos mais bem-sucedidos para isso.
Conclusões
O Fintech Americas Miami 2025 foi mais do que um evento: foi um convite à colaboração, à escuta ativa e à reinvenção regional. A América Latina está em movimento — e quem deseja liderar esse processo precisa estar presente, não apenas como referência técnica, mas como ator de diálogo e transformação.
Que em 2026 vejamos mais nomes brasileiros nos palcos, nas conexões e nas construções. Porque só assim, mais do que adaptarmos ao código, seremos capazes de escrevê-lo juntos.
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