DA CUSTÓDIA À CONFIANÇA: REFLEXÕES DE SETEMBRO SOBRE MERCADO, CRIPTO E INTERDEPENDÊNCIA GLOBAL

“O maior perigo em tempos de turbulência não é a turbulência em si, mas agir com a lógica do passado.”

Há meses em que o mercado se move aos gritos, outros, em silêncio.
Setembro foi um desses meses em que os movimentos mais relevantes aconteceram nas entrelinhas: nos gestos diplomáticos inesperados, nas curvas discretas das taxas de juros, e nas camadas mais profundas da infraestrutura financeira global.
Foi um período em que a confiança, esse ativo intangível que sustenta sistemas inteiros, voltou a ocupar o centro das discussões.

Institutional Crypto Adoption – A Infraestrutura da Nova Confiança

No dia 18 de setembro, estive na sede da Copper.co, em Londres, participando do painel “Institutional Crypto Adoption”, mediado por Ben Lorent, com as brilhantes contribuições de  Gideon Hyams (STS Digital Group) e Pedro Birmann (Quadra).

A conversa foi densa e precisa, um retrato fiel do momento em que o mercado cripto deixa de ser promissor para se tornar institucional. O tema central não era mais “se” a adoção virá, mas “como” ela deve ser sustentada por infraestrutura, governança e confiança.

Pedro Birmann destacou a evolução do mercado: do spot trading para derivativos e opções, com ênfase em custódia e gestão de risco de crédito, pilares para a entrada de capital institucional em escala. Gideon Hyams apontou a alta demanda por yield e hedge em produtos estruturados de cripto, impulsionada tanto pela busca por diversificação quanto pela fragilidade das moedas fiduciárias. O debate também abordou a fragmentação do mercado e a necessidade urgente de padronização e interoperabilidade entre plataformas e reguladores.

Ficou evidente o papel estratégico da Copper.co em construir essa nova base: uma infraestrutura que automatiza negociações OTC de opções, garante segurança do colateral e simplifica o onboarding de clientes institucionais, tudo com a robustez exigida pelos grandes players do sistema financeiro.

E, nesse mesmo contexto, a Coinmatch, plataforma desenvolvida pela Quadra, foi citada como um exemplo de como a infraestrutura institucional cripto pode, e deve, nascer de dentro do mercado.

A Coinmatch vem oferecendo soluções de liquidez e compliance sob medida, consolidando-se como uma ponte real entre o ecossistema tradicional e o emergente.

A troca foi riquíssima. 

Mais do que falar sobre ativos digitais, o painel abordou o que está na essência do futuro financeiro: a confiança como código, e a infraestrutura como linguagem comum.
Em um momento em que a fragmentação ainda é regra, a clareza sobre padrões, custódia e interoperabilidade define quem será protagonista na próxima fase da adoção institucional.

Cenário Global – Entre a Pausa e o Movimento

No plano global, setembro foi marcado por sinais aparentemente contraditórios.
Os mercados de risco tiveram um mês expressivo de valorização, mesmo em meio à desaceleração de indicadores econômicos e à persistência de juros elevados.
O S&P 500 e o Nasdaq encerraram o mês em alta, impulsionados pela recuperação das grandes techs e pela expectativa de que o ciclo de aperto monetário nos EUA estivesse chegando ao fim.

Nos bastidores, o Federal Reserve promoveu o primeiro corte de juros desde 2023, um movimento simbólico, mais psicológico do que econômico, sinalizando que a preocupação agora é o equilíbrio entre inflação e crescimento. Mesmo assim, os rendimentos dos títulos longos permaneceram altos, o que manteve o dólar forte e o apetite seletivo por risco.

Entre os episódios políticos, o breve encontro entre Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva, ocorrido à margem de um evento multilateral, chamou a atenção dos mercados e da imprensa. Ainda é cedo para medir o impacto, mas o gesto levanta uma pergunta inevitável:
será o início de uma retomada real nas relações entre os países, ou apenas fumaça política em um cenário eleitoral global?

Em tempos em que diplomacia e economia caminham lado a lado, esse tipo de gesto tem o poder de reconfigurar expectativas — especialmente num momento em que as cadeias de valor, energia e tecnologia estão sendo redesenhadas em blocos regionais.

Outro ponto de destaque foi o comportamento dos ativos de risco.
Apesar da volatilidade, setembro registrou alta expressiva nas bolsas globais e nas criptomoedas. O Bitcoin (BTC) e o Ethereum (ETH) mantiveram trajetória de valorização significativa, refletindo o apetite crescente por exposição a ativos alternativos e tokenizados. A volatilidade continua, mas o consenso amadurece: os ativos digitais deixaram de ser apenas especulação e passam a ser vistos como componente estrutural de portfólios institucionais.

A OECD e o FMI reforçaram o alerta: a economia global resiste, mas a confiança é o ativo mais volátil. Entre a desaceleração chinesa, os ajustes europeus e o reposicionamento americano, o mundo entra em uma fase de “adaptação silenciosa” na qual os dados oficiais parecem sólidos, mas as estruturas de poder e confiança seguem em mutação.

Brasil – O Descompasso entre Cautela e Confiança

No Brasil, setembro foi um mês de contrastes — entre o que se vê nas planilhas e o que se sente nas decisões de política econômica.

De um lado, o Banco Central manteve a Selic em 15%, reforçando a leitura de que, embora o ciclo de aperto tenha terminado, o de vigilância permanece. A inflação voltou a subir 0,48%, revertendo a deflação de agosto e elevando o acumulado para 5,17% no ano. Essa alta reforçou o discurso de que a estabilidade de preços ainda depende de disciplina fiscal e de sorte política.

Mas talvez o dado mais simbólico do mês tenha vindo do setor externo.
O país registrou déficit na balança comercial, puxado pela queda nas exportações de commodities e pelo aumento das importações de bens de consumo e energia.
Ao mesmo tempo, o Banco Central ampliou suas reservas em ouro em 16 toneladas, um movimento raro, que adiciona resiliência ao balanço e simboliza prudência num mundo de instabilidade monetária.

Nos corredores de Brasília, começou-se a discutir, ainda que timidamente, a ideia de diversificar parte das reservas em ativos digitais tokenizados, alinhando-se a uma tendência global de modernização das tesourarias soberanas. O tema ainda é embrionário, mas o simples fato de ser debatido indica uma mudança de mentalidade — da reserva física para a reserva programável. 

No lado real da economia, os sinais foram mistos. O setor industrial seguiu em compasso lento, afetado pelos juros altos e pela redução da confiança empresarial. Mas o mercado financeiro e de pagamentos continuou vibrante, com novos dados e regulações reforçando a transformação em curso.

O Pix permaneceu no centro das atenções, com o Banco Central endurecendo as regras de segurança e prevenção a fraudes, em resposta ao crescimento exponencial das transações e ao surgimento de modelos de crédito integrados ao sistema instantâneo.
Esses ajustes mostram o amadurecimento do ecossistema: mais volume, mais risco, mais regulação.
Enquanto isso, o Open Finance ultrapassou a marca de R$ 30 bilhões em crédito originado, consolidando o modelo como vetor de competição e inclusão. A infraestrutura aberta começa a entregar resultados concretos, conectando dados, produtos e pessoas de forma inédita.

E, coroando o mês, tivemos o Fintouch 2025, organizado pela ABFintechs, que mais uma vez consolidou o Brasil como referência regional em inovação financeira.
O evento reuniu fundadores, investidores e reguladores, debatendo desde inteligência artificial até tokenização de ativos reais (RWA), reforçando a percepção de que o país se tornou laboratório global para inovação regulada.

Apesar do cenário de juros altos e incerteza fiscal, o IBOVESPA encerrou setembro em forte alta, acompanhando a onda global de valorização dos ativos de risco.
Uma contradição aparente, mas que traduz o sentimento predominante: o investidor local continua acreditando no Brasil — mesmo quando o país insiste em duvidar de si. 
Enquanto isso, o Open Finance ultrapassou a marca de R$ 30 bilhões em crédito originado, consolidando o modelo como vetor de competição e inclusão. A infraestrutura aberta começa a entregar resultados concretos, conectando dados, produtos e pessoas de forma inédita.

E, coroando o mês, tivemos o Fintouch 2025, organizado pela ABFintechs, que mais uma vez consolidou o Brasil como referência regional em inovação financeira.
O evento reuniu fundadores, investidores e reguladores, debatendo desde inteligência artificial até tokenização de ativos reais (RWA), reforçando a percepção de que o país se tornou laboratório global para inovação regulada.

Apesar do cenário de juros altos e incerteza fiscal, o IBOVESPA encerrou setembro em forte alta, acompanhando a onda global de valorização dos ativos de risco.
Uma contradição aparente, mas que traduz o sentimento predominante: o investidor local continua acreditando no Brasil — mesmo quando o país insiste em duvidar de si.

Reflexões Kadmotek – Custódia, Confiança e o Tempo como Ativo

Na Kadmotek, acreditamos que os mercados são organismos vivos: respiram ciclos, testam limites e se regeneram no tempo. Mas há algo que permanece, a busca por confiança.

O painel na Copper foi, de certo modo, um espelho do que vemos acontecer em escala global: infraestruturas de confiança substituindo narrativas de disrupção.
É o momento em que a tecnologia deixa de ser promessa e passa a ser infraestrutura invisível, sustentando a solidez dos fluxos financeiros e dos ecossistemas.

Em nossas teses de investimento, essa visão se traduz em um tripé claro:
– Fintechs que constroem pontes entre crédito, dados e tokenização;
– Edtechs que ampliam inclusão e reduzem assimetrias;
– Infraestruturas que conectam inovação a propósito, transformando eficiência em impacto.



Porque o futuro do mercado — seja ele tradicional ou cripto — não será definido pela velocidade das transações, mas pela qualidade das relações.
E isso vale tanto para a custódia de ativos quanto para a custódia da confiança.

Setembro reafirmou algo essencial: mesmo com juros em queda nos EUA e ainda elevados nos emergentes, com déficits e reservas se alternando, com encontros improváveis entre líderes e reconfigurações diplomáticas, o que sustenta valor é o que não se mede em basis points — é o que se constrói no tempo.

No final das contas, custódia e confiança são sinônimos. E é nelas que repousa o verdadeiro fundamento da inovação.

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