Apreendi nas trilhas a importância da pausa, de sentar para recompor as energias, trata-se de um momento sagrado na travessia, onde ao reunir o grupo, você pode ajustar a fivela da mochila, recuperar a energia, e ainda estimular a troca de experiência entre os participantes da jornada.
Nesse artigo vou compartilhar três pontos que se destacaram para mim:
• Relação founders / investidores;
• Inteligência artificial;
• Blockchain.
Sobre o primeiro tema, tive a oportunidade de conversar com alguns founders de startups e com vários alunos da HaaS de Berkeley.
Como é possível imaginar, a minha experiência no Brasil é diversa daquela experenciada pelos meus interlocutores. Nesses dois anos assistindo a diversos pitchs e relembrando a minha experiência de décadas ouvindo no Brasil de “novos empresários” apresentação de oportunidades de negócios, percebi, logo que aterrizei no Vale, ficou visível o fato de que o déficit que temos em relação a eles é considerável. Refiro-me aqui à dinâmica de interação e compartilhamento de conhecimento/tecnologia produzidos.
Sem sombra de dúvida, foi o meu primeiro choque de realidade.
Não quero desmerecer nosso mercado e muito menos os nossos profissionais. Temos muita criatividade em nosso país e, sim, vários negócios desenvolvidos por pessoas fora da curva.
Como brasileiro, ainda residente no Brasil, tenho orgulho da nossa força de trabalho. Todavia, fico imaginando se os brasileiros que fizeram (e ainda fazem) a diferença no mercado nacional pudessem agregar ao próprio conhecimento o nível de preparação dos founders que são formados nesse ambiente. Notadamente, dos founders do Vale.
Assim, no contato que tive na Califórnia com pessoas de todas as idades e gêneros – todas com um ponto em comum: muito, mas muito conhecimento mesmo – percebi que elas sabiam muito bem como funciona o ecossistema de startups, tendo clareza sobre os desafios do mercado e a certeza de que suas ideias podem ser superadas a qualquer momento.
Mais do que um insight, essa verdadeira consciência (fruto do caldo cultural ao qual me referi no meu artigo anterior) motiva o pessoal do Vale a uma busca contínua pela melhoria; a realizar as entregas compromissadas para irem para a próxima captação. E, mesmo quando não são da área de tecnologia, essas pessoas têm conhecimento sobre os softwares disponíveis, sabendo quais podem ser descartados a qualquer momento por uma tecnologia mais atual. São treinados a realizar MVPs (minimum viable product) o tempo todo.
Portanto, conhecer e conversar com esses founders foi inspirador. A energia e a vontade de mudar algo no mundo são manifestadas a todo instante. Só por isso, a minha breve jornada já valeu a pena.
No Vale, o acesso a investimentos também é maior do que no Brasil, em função de lá estarem sediadas a maioria das venture capitals dos EUA. Não é como no Brasil, onde captar investimentos ainda é algo desafiador, cujo acesso aos investidores é cheio de rituais, visto que nosso mercado é limitado neste sentido.
Lá, a bem da verdade, o contato entre startups e investidores é muito mais acessível. A velocidade na decisão de negócios também, sendo as reuniões realizadas com questionamentos assertivos, onde os dois lados seguem um playbook, ou seja, a startup além do seu propósito, tem que ter estudado o mercado, conhecer todos os indicadores de seu negócio, compreender se há concorrentes e, até mesmo, monitorar os possíveis interessados na aquisição da própria startup, não é algo para amadores.
A propósito, é comum que a sabatina do pretenso investidor demore poucos minutos. Trata-se, pois, de dinâmica com a qual nós latinos não estamos ainda tão familiarizados assim, e existe uma falsa ilusão ao ouvir relatos de decisões rápidas, não podemos esquecer que esses investidores escutam pitchs de forma serial.
Em matéria de tecnologia, o tema da inteligência artificial é o primeiro que gostaria de dedicar algumas linhas.
Particularmente, fiquei impressionado com a força da AWS (Amazon web services). A maioria das startups cita a AWS como sua ferramenta de IA, por conta da facilidade e eficiência no uso dessa tecnologia.
Neste caso, temos o uso tanto no modelo machine learning, mais comum, como no deep learning, de forma simplista. Na minha visão técnica, o modelo machine learning está atualmente muito associado ainda à programação. Nós o vemos muito em aplicações de chatbots, ou seja, exige um programador desenvolvendo fluxos, mas de forma acadêmica está classificado na cadeira de inteligência artificial.
Do outro lado, temos o deep learning, onde existe a necessidade de aplicações que capturem muitos dados para desenvolver o aprendizado de máquina, sendo determinante a figura da curadoria para apoiar o aprendizado da máquina. Um exemplo que gosto de citar é o Google translate. Quem usa há mais de 5 anos essa aplicação, acredito que consiga identificar como o algoritmo está mais eficiente nas traduções, hoje, associando duas palavras de forma ágil, ocorrem modificações nos significados, com uma alta precisão.
Portanto, o founder que hoje pensa em solucionar um problema, tem que ter no seu backlog a captura do máximo de dados possíveis, e atingindo um market share que seja representativo, e que ao constituir um BIG DATE, tenha a possibilidade de aplicar ferramentas de inteligência artificial para que possa agregar ao seu usuário uma experiência de valor, desde o seu primeiro contato com interfaces UX, às futuras interações com produto da empresa, uma ferramenta de engajamento por exemplo, tem que ter uma curadoria constante nas trilhas dos usuários, para sempre buscar as melhores experiências aos mesmo.
Blockchain é outra tecnologia comentada de forma natural pelos founders, e recomendo também a leitura de um artigo publicado em nosso blog, BlockChain – a quarta revolução chegou, do nosso colunista Leonardo Grapeia.
Escrever a respeito de blockchain torna obrigatório escrever sobre criptomoedas.
Antes dessa jornada pelo Vale, com toda a minha história de tecnologia em instituições financeiras e por ter um networking amplo com pessoas do mercado financeiro, eu tinha muito preconceito com as criptomoedas.
No entanto, ao chegar nas terras do tio Sam, as minhas dúvidas caíram por terra. Com efeito, as criptomoedas não constituem apenas um assunto dentro do ecossistema. Eu estive durante 3 meses nos EUA e esse tema é recorrente. Em síntese, ressalto que existe ainda o problema de velocidade na gravação de dados, mas já temos criptomoedas com novos formatos de mineração. Empresários e pessoas físicas que estão inseridos em um mercado global, onde realizam negócios com diversos países, hoje tem com as criptomoedas uma realidade de transferência de recursos financeiros, algo que na minha imaginação estava no futuro, nos EUA para alguns segmentos já é realidade.
De qualquer forma, o mais importante é que essa tecnologia está sendo expandida para outras aplicações, tais como: contratos, NFTs e armazenamento de dados pessoais. Realmente, são muitos os processos que, para garantir e dar confiabilidade, são realizados com o uso de blockchain;
Diante disso, na minha visão, o modelo de armazenamento de dados nos próximos dois anos tende a sofrer uma grande disruptura. Esse caminho não tem retorno.
As universidades e empresas no Vale foram protagonistas para desenvolver profissionais, e, consequentemente, tecnologia, atraindo o mercado de capitais. Todo esse conjunto formou o éthos, (conjunto de traços e modos de comportamento que conformam o caráter ou a identidade de uma coletividade), o que na minha visão é esse ambiente, no qual os founders, que melhor se adaptam, é que obtém o sucesso.
Tudo isso fez surgir em mim a vontade de retomar ao banco de estudos e conhecer mais sobre esse mundo de mudança contínua. Sobre esse éthos de excelência. E a minha visão ao assistir pitchs se tornou mais crítica, muitas startups têm potencial digitalizando processos que existem, mas somente o uso de tecnologia aplicada à processos mais eficientes, pode colocar uma startup para correr na primeira fila do Grande Prêmio.
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