Tive um bate-papo com Renato Virches, Rodolfo Fücher e mediação de Cintia M. Ramos Falcão, falamos sobre os impactos da tokenização no setor financeiro, o uso de tokens como garantia bancária e como a tokenização pode ser aplicada aos negócios do sistema financeiro, foi uma live realizada pela ACREFI e VETERA. Se você perdeu, recomendo que assista na íntegra o conteúdo. Acesse o link ao final desse artigo e confira.
Hoje trago para você uma síntese do nosso debate e um pouco do que não tive oportunidade de expor, por conta do exíguo tempo da live. Ao final do artigo deixo um pequeno vocabulário web 3.0 para você se familiarizar com os termos.
É inquestionável que a tecnologia já está presente em tudo ao nosso redor e em constante inovação. E, claro que para o mercado financeiro não poderia ser diferente, pois a tokenização chegou para revolucionar esse mercado, garantindo maior eficiência nas transações de diversos setores. O próprio PIX é uma prova dessa eficiência, tendo como uma das suas bases a tecnologia blockchain. Como bem citou Cintia Falcão na abertura da live, Roberto Campos Neto, Presidente do Banco Central cita uma frase que traduz muito esse momento de constante evolução:
“Não entender nada, ultimamente, é o estágio constante em que me sinto em relação às inovações do mundo financeiro, que está em franca mudança. Se aperfeiçoar nessas novas tecnologias deve ser a meta para que possamos nos inserir nesse ecossistema”.
Sem dúvida, o mercado financeiro está cada vez mais ganhando força e apoio no que tange à tecnologia e suas inovações. Isso se deve tanto ao Presidente do Banco Central que busca entender, conhecer e acompanhar de perto todas essas inovações, seja por parte dos órgãos reguladores. Todo o processo de tokenização já está implementado no mercado regulado sob o aval da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), e conta com a presença e contribuição de grandes instituições financeiras. Inclusive, escrevi sobre isso em outro artigo: “O que Campos Neto apresentou na FEBRABAN Tech”.
Um primeiro grande impacto da tokenização no mercado financeiro, sem dúvida, é a eficiência. Isso porque ela permite que processos de investimento e liquidação financeira, por exemplo, avancem de forma extremamente rápida. Hoje, no mercado tradicional existem muitos limitadores, como o local físico que não opera 24 horas por dia, nem 7 dias por semana, ou a liquidação que não é instantânea. Ao contrário disso, a tokenização permite e garante segurança nas transações a uma velocidade instantânea e tudo com absoluta transparência. A tecnologia de blockchain por trás da tokenização, permite que esses tokens fungíveis, sejam processados em uma tecnologia que até hoje não conseguiu sofrer ataques de hackers.
Os processos de tokenização estão se expandindo pelo mundo, embora ainda com discussões sobre sua regulação. Algumas pessoas confundem com criptoativos, por conta do uso da mesma tecnologia. No entanto o foco do nosso debate foi o uso no mercado de veículos, o qual está dentro de uma regulamentação. Em 04 de abril de 2023, tivemos a publicação do Ato Circular n.º. 4/2023/CVM/SSE, confirmando para o mercado financeiro que essa disrupção veio para ficar. Espera-se o fortalecimento das atuais câmeras registradoras, como CIP, CERC, B3, CRDC, entre outras, e a criação de novos entrantes buscando ser opções para a comercialização de tokens.
Outro ponto importante é que a tokenização pode sim ser usada como garantia de crédito bancário e, em futuro bem próximo, acredita-se que os órgãos do governo associem os veículos em NFT’s, inclusive é algo que já está acontecendo na Califórnia e foi um dos cases relatados na SXSW 2023, em Austin. Essas NFTs poderão ser usadas como garantia em um empréstimo ou qualquer outra transação que precise de garantia, além de proporcionar uma rastreabilidade jamais vista em um veículo. Imaginem pedágios, estacionamentos e semáforos monitorando NFTs e lançando sua rastreabilidade em uma grande rede blockchain, qualquer carro roubado poderá ser localizado facilmente, entre tantas outras vantagens. A inovação sendo aplicada na prática, criando formas de organização, acessibilidade, agilidade, liquidez e eficiência, tudo isso de forma segura e transparente, como deve ser.
Hoje todas as instituições financeiras passam por processos burocráticos e com uma tecnologia de conexões e trocas de arquivos, que exigem integradores especializados em tecnologias proprietárias a eficiência e segurança estarão garantidas. Os modelos de blockchain, apesar de para muitas pessoas soar como novidade, foram lançados em 2008, com o BitCoin. Dizem que foi desenvolvido por Satoshi Nakamoto, outros dizem que não passa de um pseudônimo para um grupo de pessoas que optou por não se tornar público por receio de retaliação de um status quo.
Segue abaixo alguns exemplos de tokenizadoras que já começam a desbravar o mercado financeiro com o uso dessas ferramentas:
• Liqi, liderada por Daniel Coquieri, é um dos players mais relevantes do mercado, sendo inclusive a tecnologia adotada para o Real Digital, e hoje investida pelo Itaú.;
• Credix – liderada por Chaim Finizola, tem pelo menos 25 fundos usando sua tecnologia;
• Gávea Marketplace, liderada por Vitor Uchôa Nunes, está tokenizando commodities na bolsa com mais de R$ 3 bi transacionados, o equivalente a 6 milhões de toneladas de grãos e deve disponibilizar linhas de crédito para produtores rurais. Tudo isso sendo registrado no BACEN e na B3;
• Vórtx QR Tokenizadora, aprovada em junho/2022 para operar pela CVM, após passar pelo sandbox do órgão, vem para emitir debêntures e FIDCs tokenizados, tudo sob coordenação do Itaú BBA;
• PeerBR, do grupo GCB, uma plataforma de negociação de outros produtos, como precatórios, recebíveis judiciais, consórcios e criptomoedas.
Podemos dizer que tokenização está rompendo barreiras no mercado financeiro tradicional, eliminando intermediários, burocracia e restrições de horário bancário, abrindo espaço para a democratização. Assista na íntegra o conteúdo da live e saiba um pouco mais sobre esse assunto atual e inovador:
Vocabulário web 3.0
Token: é uma chave eletrônica, um pedaço de um código que representa um ativo. Eles podem ser subdivididos, negociados e armazenados em tecnologia de contabilidade descentralizada.
Os tokens podem ser classificados como fungíveis e não fungíveis.
Token fungível: significa que ele só pode ser trocado por algo da mesma espécie, como dinheiro, por exemplo, pois uma cédula de real pode ser substituída por outra de igual valor.
Token não fungível: representa algo único, individual e não podem ser substituído, como obras de arte, exemplares únicos, objetos ou coisas raros, etc.
NFT: é a abreviação de “Non-Fungible Token” ou “Token não fungível”.
Tokenização: é a transformação de ativos físicos em ativos digitais fragmentados em unidades criptografadas, os tokens, tudo isso decorrente de inovações tecnológicas baseadas em blockchain e que está cada vez mais presente no Brasil. Dentre os ativos físicos tokenizáveis podemos citar: obras de arte, imóveis, empreendimentos da economia real e muito mais. Já os ativos intangíveis temos as NFTs, moedas digitais, royalties, ações de empresas.
Blockchain: em tradução livre podemos dizer que blockchain é uma “cadeia sequencial de blocos” que processa dados. Essa sequência de blocos agrupa um conjunto de dados/informações que se conectam por meio da criptografia e armazenam informações como data e hora, quantidade transacionada, partes da transação, hashes únicas que são responsáveis por identificar cada transação. A formação em blocos garante que o conteúdo do registro só poderá ser atualizado adicionando um novo bloco vinculado ao anterior, de forma que, cada novo bloco contém a hash do bloco anterior, garantindo assim maior segurança à transação.
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