No mês passado completamos 01 ano de rotina com restrições devido à Pandemia do COVID-19, cujas consequências refletiram-se na mudança de hábitos dos consumidores brasileiros, na saúde pública, e em especial na economia, sendo o varejo um dos setores mais afetados em nosso país.
O impacto imediato foi o aumento expressivo do varejo on line em detrimento do varejo físico. A restrição de mobilidade fez os consumidores migrarem para as compras na internet, com serviços de entregas. Segundo dados do IBGE e da Receita Federal, até 2018 o e-commerce representava 3.8 % do varejo total, mas em 2020 passou a representar 6%.
Com a restrição de mobilidade e redução no volume de clientes, o varejo físico tem sofrido muito com a queda nas vendas e consequente dificuldade de pagamento dos custos com pagamentos de funcionários e demais custos operacionais. Para tentar compensar as perdas devido à queda do movimento em suas lojas, muitos varejistas intensificaram as vendas através das grandes plataformas de marketplace (Ifood, Rappi, Mercado Pago, Amazon, Americanas e outras), mas os altos custos de comissão e frete têm inviabilizado a continuidade de muitas operações, que por não terem alternativa, fecharam as portas. Segundo dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 75 mil lojas fecharam as portas em 2020.
Em uma análise qualitativa por segmento do varejo, os dados do IBGE, divulgados na Agência Brasil em 2020, mostram que os segmentos de primeiras necessidades e artigos básicos tiverem bom desempenho, apresentando os seguintes crescimentos: supermercados, alimentos, bebidas e fumo (4,8%), móveis e eletrodomésticos (10,6%), artigos farmacêuticos, médicos e de perfumaria (8,3%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (2,5%). Os demais setores analisados pela pesquisa tiveram quedas significativas: combustíveis e lubrificantes (-9,7%), tecidos, vestuário e calçados (-22,7%), livros, jornais, revistas e papelaria (-30,6%) e equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-16,2%). Ou seja, os consumidores estão adquirindo o básico para sua sobrevivência e postergando o consumo dos supérfluos. Isso sem falar que após um ano de queda na atividade da economia, a renda disponível para o consumo caiu significativamente.
Ainda não temos uma definição de quando as restrições de mobilidade vão terminar. Muitos falam que 2021 também será um ano de muitas dificuldades devido à velocidade da vacinação em nosso País.
O que o futuro reserva para o varejo no Brasil?
No curto prazo o foco deve ser a sobrevivência do negócio, com ampliação dos canais de venda para atender a demanda dos clientes confinados em suas residências, mas com o desafio de encontrar a estrutura de logística adequada e com um custo compatível, que garanta a margem de lucro mínima necessária para a manutenção das operações. O uso das mídias sociais para a adequada comunicação com os clientes tornou-se imprescindível, assim como o investimento em um sistema de gestão de informações e hábitos de consumo dos clientes. Muitos varejistas ainda ficarão no meio do caminho, pois não terão o folego financeiro necessário para passar esse período de tormenta.
Passada a etapa da sobrevivência, será necessária a revisão do modelo de negócios, com redesenho dos espaços físicos, que devem ser planejados para melhorar a experiência de consumo dos clientes e devem atender a uma demanda crescente de transações sem contato (caixas de autoatendimento e pontos de pagamentos volantes com máquinas com pagamento por aproximação); investimentos em um sistema de gestão de banco de dados (CRM) para que os varejistas possam conhecer melhor os hábitos do consumidor e possam atender a demanda por produtos e serviços personalizados); além da criação de um sistema ominichannel de atendimento (com venda on line com delivery, venda on line com coleta na loja, venda na loja com delivery e venda para retirada em pontos de coleta estabelecidos com parceiros comerciais, como por exemplo, postos de gasolina, lojas de conveniência, correios, etc.), resolvendo adequadamente a equação da melhor estrutura logística de suas lojas físicas, centros de distribuição e plataformas de comércio eletrônico com menor custo e menor logística reversa. Adicionalmente os varejistas devem buscar inovações tecnológicas para implantação de melhores ferramentas de planejamento e gestão (controle de estoque e planejamento de compras), para reduzir os custos operacionais e de inventário.
Analisando a questão estrutural da nossa economia, sabemos que o processo de renovação do varejo no Brasil, que acabamos de descrever, depende da resolução da estrutura de financiamento adequada, pois os pequenos e médios empresários não tem acesso ao crédito com volume adequado e no custo compatível com a lucratividade de seu negócio. O governo federal precisa fazer a sua parte e criar linhas de crédito de custo baixo e longo prazo. Também devemos apontar a pesada carga tributária sobre o segmento do varejo, sendo que os governos estaduais precisam entrar num acordo com relação à briga das alíquotas de ICMS para tributar somente o valor agregado na cadeia de varejo e estimular o crescimento desse importante setor da nossa economia. Em nosso país sabemos que a atuação dos governos pode demorar muito ou nem acontecer. Não podemos ficar esperando, sendo fundamental a atuação de empresas que promovem o financiamento através do capital de risco e de startups que oferecem soluções de tecnologia e gestão com custo reduzido para os varejistas de pequeno e médio porte que não tem acesso ao mercado tradicional de crédito e de investidores, bem como recursos para investir em empresas de consultoria e software já consolidadas. É nesse cenário que a KADMOTEK VENTURES pretende atuar no segmento de varejo do nosso país.
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