Seguindo a esteira de evolução do Open Finance, e bem alinhado ao seu cronograma, tiveram início os grupos de trabalho do Open Insurance com as primeiras definições de escopo de dados, governança e padrões técnicos, todas consistentes com o aprovado no Open Banking.
O Brasil é pioneiro no mundo nesta iniciativa, dado que na Europa e outras jurisdições estão planejando focar no assunto apenas nos próximos anos.
Existem muitas dúvidas e preocupações quanto ao tamanho do desafio
Talvez por falta de referências anteriores, o início da estruturação da jornada do processo regulatório para criação de um sistema segurador aberto já atrai muitas preocupações e críticas de incumbentes que resistem às mudanças planejadas e de serem conduzidas no ritmo proposto, intenso e desafiador, semelhante ao que foi realizado nas fases anteriores do Open Banking.
Existem questionamentos dos participantes do mercado que – também de certa forma, são naturais e existentes em qualquer projeto de transformação – são motivados neste início mais por incertezas e temores de um futuro não claramente visualizados, mas ainda agravado em função de custos potencialmente elevados (e não orçados), cronograma conflitante com outras demandas e falta de esclarecimentos sobre pontos importantes e incongruentes em relação ao modelo de negócio.
O Open Insurance promete uma grande modernização e capacidade de inocular a inovação em um business que ainda possui um grande espaço para digitalizar dos seus processos, e, oferecer soluções e experiências melhores aos seus clientes.
Ainda que o setor como um todo reconheça este potencial de transformação trazido pelo novo ecossistema de negócios, as “dores do parto” têm sido significativas, especialmente entre as companhias mais tradicionais, uma vez que as insurtechs entrantes teriam vantagens por já nascerem mais sintonizadas com o novo ambiente digital.
Neste sentido, é inevitável também a comparação com a disrupção em curso na indústria bancária com o surgimento de centenas de fintechs que aumentaram a pressão sobre os grandes players, que alimenta o fascínio e o temor – ambos talvez exagerados – dos participantes deste mercado.
O desenho do Open Insurance se inspira no modelo do Open Banking
Enquanto isso a SUSEP trabalha nas novas regras buscando envolver todo o mercado, a exemplo do modelo de coparticipação conduzido pelo Bacen no projeto do Open Banking. Se por um lado, aproveitar toda a governança e modelo estrutural já testado do Open Banking demonstra bom senso e inteligência, não somente porque acelera a curva de aprendizado aproveitando definições e procedimentos já consensados, mas também porque ambos os negócios (bancário e segurador) se integrarão de forma natural e sinérgica.
Por outro lado, isto gera inseguranças no mercado quanto a capacidade de tratar de forma adequada as relevantes e sensíveis diferenças entre ambos os negócios. Críticos da Fenaseg e CNSeg apontam que a regulação proposta para o Open Insurance não se preocupou em tratar a figura do corretor de seguros, uma vez que considera que a contratação de muitos produtos de seguros que precisam hoje do auxílio deste profissional especializado, embora outras indústrias como a de Investimentos já resolveram este problema classificando os produtos de varejo dos mais sofisticados que são liberados apenas para clientes qualificados ou mediante participação de um assessor especializado para adesão consciente.
Outra grande apreensão reinante é o tamanho do desafio e engajamento necessário das Seguradoras, tradicionalmente conservadoras, para realizarem a transformação de seus legados e se tornarem aptas para implementarem as novas práticas para obterem os poderosos benefícios deste novo ecossistema de seguros e previdência. Resistência semelhante o mercado bancário enfrentou no início do Open Banking.
A boa notícia é que as Seguradoras devem encontrar um mercado de prestadores de serviço já maduro, desenvolvido por requerimentos já consolidados e bem familiarizados com os padrões tecnológicos e especificações desenvolvidas (APIs, Segurança, Jornada de Consentimento, etc.) pelas inciativas anteriores do Open Banking.
Grande impulso na direção da disrupção do mercado de seguros
O único consenso é que o Open Insurance trará mudanças profundas para todo o mercado, em especial no desenvolvimento de novos produtos e modelo de negócio das seguradoras, sendo cada vez mais centradas no cliente.
O Open Insurance naturalmente traz a possibilidade das Seguradoras se conectarem a novos ecossistemas dentro do Open Finance, ampliando as possibilidades de parcerias e novas formas de fazer negócios, além de uma visão mais integrada das necessidades e da capacidade financeira dos clientes.
Além disso, a interoperabilidade, amplia a capacidade de captura de dados para enriquecer as bases do negócio de seguros, permitindo novas estratégias de arrecadação e opções e diversificando de monetização e formas dos clientes efetuarem o pagamento dos seus seguros sem fricção.
Como está ocorrendo no mercado financeiro, a expectativa das seguradoras é que com acesso aos dados que sejam criados produtos mais conectados às necessidades individuais dos clientes, e com todo este movimento de evolução, conseguir aumentar a atratividade e penetração de seguros, que hoje é muito pequena no Brasil, em comparação aos outros países.
No entanto, a iniciativa de Open Insurance surge no meio de outras grandes mudanças e desafios para o setor, já pressionados pela disrupção provocada pelas tecnologias digitais emergentes e por demandas regulatórias da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e, principalmente, da obrigatoriedade de conclusão do Sistema de Registro de Operações (SRO), que vai permitir que todas as operações de seguros sejam registradas na Susep, que evidentemente consomem as agendas e recursos preciosos das seguradoras.
Segurado será o maior beneficiado
O Open Insurance deverá possibilitar ao consumidor uma visão holística de suas apólices facilitando a comparação entre os produtos e suas características, ampliando assim a sua capacidade de escolha, de forma mais autônoma e precisa, localização de soluções que melhor se encaixam às suas necessidades, dando maior poder de escolha.
No final das contas a grande aposta da Susep – de novo, a exemplo dos objetivos do OpenBanking – é acelerar a inovação de soluções e serviços convenientes aos clientes, com melhor avaliação de risco e otimização de preços a partir do inevitável fomento da competição, beneficiando todos os segurados e a sociedade.
Este movimento certamente fará bem para o mercado de Seguros, com baixa penetração no mercado e ainda pouco engajado na jornada da transformação digital. Não por acaso utiliza uma linguagem desconectada do entendimento do cliente (com termos como: prêmio, sinistro e endosso), leva semanas para entrega do contrato (apólice) ao cliente, falta de opções de customizações do produto, sem produtos as a service, etc., e assim por diante.
Por outro lado, como reflexo do anúncio da transformação que se aproxima, algumas Seguradoras começam a enxergar oportunidades e se movimentar em busca de um novo posicionamento, os investimento e quantidade de insurtechs já começam a crescer substancialmente e arejar o segmento, gerando promissoras iniciativas de novos serviços e parcerias mais amplas, promovendo o início da modernização do negócio de seguros.