Humanização
Os termos humanização, humanizada e humanizado “viralizaram” e seu uso, nos últimos meses, não para de aumentar. Disciplinas como medicina, gestão da saúde, atendimento, demissão, educação, venda e liderança, entre variadas outras, recebem agora esse escopo.
Humanização, na minha visão, é na verdade um movimento natural e evolutivo pelo qual a humanidade resgata aspectos que o próprio processo de desenvolvimento social, econômico, cultural, tecnológico e de valores causou ou manifestou historicamente.
Qual a explicação do fenômeno “humanização”? Aqui vale uma rápida lembrança da jornada da nossa espécie, o homo sapiens. Já existimos há milhares de anos e de acordo com historiador e escritor Yuval Noah Harari, em seu livro Sapiens uma breve história da humanidade, já são 70 mil anos do início da ocupação do planeta o que veio junto com a elaboração da linguagem ficcional, a chamada revolução cognitiva. Passamos pela revolução agrícola há 12 mil nos, pela científica há cerca de 500 anos e há 200 anos, com a explosão da revolução industrial, que inaugura um momento em que reforçamos o tratamento a do ser humano como apenas um recurso, uma engrenagem, algo tão bem retratado por Charlie Chaplin em uma cena do filme Tempos Modernos de 1936.
O Advento da computação a partir da década de 70 do século passado reforça essa visão, criando o paradoxo de que tudo deve ser feito na velocidade da tecnologia e a denominada revolução industrial 4.0 chega com o advento da IOT (Internet das coisas), do uso massivo de robôs, do conceito de machine learning e da inteligência artificial. Há também o conceito da singularidade, que preconiza que com os avanços exponenciais a tecnologia irá modificar profundamente o ser humano, mas que já traz os resultados indesejados em escala global com patologias como depressão, ansiedade, síndrome do burnout, entre outras que não param de surgir.
Para os estudiosos da consciência humana e dos valores que nos guiam nas visões de mundo, estamos em uma região limítrofe de um nível de consciência que acredita em ideais como ciência, racionalidade, tecnologia, foco, direção, resultado crescente ao acionista e que acelera o surgimento das doenças já citadas. Toda patologia, nesse ramo de estudo, provoca, naturalmente a sua cura. Para isso acontecer, surge então um novo olhar, uma nova força, um novo nível de consciência que me atrevo a denominar de “Era das Pessoas”, que emerge nesses tempos de pandemia do Covid 19 (2020-2021) com força total e que confronta a visão dominante. Ideais como harmonia dos relacionamentos, diversidade e inclusão, consenso, sustentabilidade (vide a força do ESG) e adivinhe? Sim, a humanização que para equilibrar a polarização que toda essa história que contei nos causou.
Amplio essa análise trazendo o conceito de Metaimpacto de Sean Esbjörn-Hargens que, após estudos de variados tipos, mapeia uma estrutura de 10 capitais distribuídos em 4 tipos de impacto: Claro, Alto, Amplo e Profundo, conforme ilustração abaixo.
Quando tive acesso a esse excelente material em 2018, percebi que há uma dimensão que ainda não foi plenamente valorizada. Historicamente a força vai para o capital financeiro, para a manufatura e para a exploração de recursos naturais (impacto alto).
Também encontramos as práticas que visam a saúde física do ser humano, através de planos de saúde e benefícios alimentares (impacto claro). Começamos também, com o advento do ESG – Enviroment, Social and Governance a nos preocupar com os capitais de impacto amplo
Os capitais de impacto profundo, que foram desprezados nesse processo evolutivo, começam, felizmente, a entrar na pauta das organizações. As doenças psicológicas, as mortes por suicídio e por excesso de trabalho trazem a devida reflexão e a humanização surge para amparar as ações, decisões e investimentos relacionados aos citados capitais (espiritual, psicológico e conhecimento).
A humanização é uma resposta sistêmica e social que visa reparar e preparar a sociedade para continuar o processo evolutivo do homo sapiens. Um movimento mais equilibrado que precisa sustentar o crescimento econômico e a evolução tecnológica exponencial em um abraço carinhoso com as dimensões individuais, respeitando o que o ser humano sente, valorizando o pensamento diverso e permitindo uma ação que resgate o convívio, as pausas, o descanso, a família e a espiritualidade entre outras questões importantes e extremamente relevantes. Que ela seja muito bem-vinda!
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