Liderança da transformação digital para CEOs sem formação técnica


Com o passar dos anos, as empresas, sem exceção, tendem a se transformar em empresas de tecnologia. Foi-se o tempo que a tecnologia se limitava ao computador do departamento financeiro, onde usava-se apenas o pacote office. Hoje, quem não possui sua operação tecnologicamente desenvolvida não deve mais se considerar uma empresa do futuro.

E, com a velocidade e evolução da tecnologia, surgiram dois problemas:

1 – Mercado carente de profissionais técnicos capacitados;

2 – CEOs sem nenhuma formação técnica liderando a transformação de suas empresas.

Vamos tratar somente do problema 2 hoje, deixaremos o problema 1 para uma próxima oportunidade.

Como um CEO, sem nenhuma formação técnica em tecnologia da informação, muitas vezes apenas com um bacharel em administração de empresas, ou um MBA em gestão de negócios, pode liderar uma empresa a se libertar do analógico e se tornar uma empresa com processos automatizados e otimizados, geridos por um ou vários sistemas, com informações em tempo real, de forma confiável e com alta disponibilidade?

Temos quatro alternativas para essa pergunta:

1 – Estudar e aprender tecnologia;

2 – Contratar uma galerinha programadora;

3 – Contratar um CTO/CIO;

4 – Trazer um sócio técnico para o negócio.

Disclaimer: Não vou entrar no mérito de explicar as diferenças de um CTO e um CIO, é conteúdo para um outro texto. Vamos simplificar e considerar que estamos falando de um profissional especialista em tecnologia.

A resposta depende bastante da situação da empresa, do porte e dos objetivos futuros. Vamos considerar que estamos tratando de uma empresa familiar, fundada há 50 anos, com 30MM de faturamento/ano, fundada pelo pai, hoje com 80 anos e atualmente gerida pelo filho com 50 anos, formado em administração em 1996, cujo neto de 20 anos não tem a mínima vontade de assumir a empresa.

A empresa usa um ERP antigo, fornecido por uma software house também antiga, ERP contratado apenas porque em 2005 se tornou obrigatório a geração de Nota Fiscal Eletrônica. O ERP tem suporte técnico ruim. Os colaboradores ainda batem ponto com cartão, contabilidade é precária, entre outros problemas.

A concorrência está forte, com sócios mais novos, mais tecnologicamente desenvolvidos, com melhores canais de venda, com custos mais baixos e com crescimento superior nos últimos anos.

Nesse cenário, minha resposta seria a 3 – Contratar um CTO e investir pesado em tecnologia.

Esse cenário é bastante comum no Brasil e considerando que nosso CEO não conhece nada além de Word, Excel, Powerpoint e Outlook, como ele poderia liderar e acompanhar os avanços desse novo CTO contratado? Quais conhecimentos básicos são necessários para entender e acompanhar os processos de uma transformação digital?

Acabei de ouvir a pergunta: João Paulo, porque contratar um CTO, que é caro, e não um gerente de tecnologia, com 15 anos de experiência, com MBA em tecnologia da informação e inglês fluente, muito mais barato, que saiba implantar um ERP parrudo e saiba forçar toda a empresa a usá-lo, para no final do mês gerar uns relatórios?

A resposta é simples: Tecnologia não é só ERP, para transformar uma empresa é necessário conhecimento de negócios e do negócio, desde compra de insumos, produção até a venda e entrega para o cliente. Se o responsável pela digitalização não entender de negócios e do negócio ele jamais fará o que a empresa precisa e ficará limitado apenas a instalar sistema e cuidar da rede.

Voltando;

Com o CTO contratado, vamos considerar que no primeiro dia, no onboarding, já fique claro para o novo CTO que o objetivo é digitalizar a empresa, todas as áreas, em todos os âmbitos, desde o processo de compras e cotações passando pelos canais de venda e distribuição até o planejamento da evolução tecnológica para os próximos 10 anos.

Inicialmente, na cabeça do CTO surgirão os seguintes questionamentos:

1 – Como funcionam nossos concorrentes?

2 – Como nossos clientes compram, e onde eles estão? Usam redes sociais? Compram online?

3 – O que nós já temos em casa? Nossos colaboradores possuem mente aberta? Possuem facilidade com tecnologia?

4 – Como é o ciclo de produção dos nossos produtos? Compramos tudo e produzimos tudo?

5 – Quem são nossos fornecedores e como eles funcionam? Possuem canais digitais de venda?

6 – Quanto tenho de budget?

7 – Quem é nosso benchmark?

Com as respostas desses questionamentos, ele pensará em algumas soluções:

1 – “Nuvenrização” da empresa;

2 – Digitalização de 100% dos documentos;

3 – Automação de processos de compra, produção e venda;

4 – Integração com sistemas de fornecedores;

5 – Desenvolvimento de canal digital de vendas.

Com essas respostas, o trabalho estará norteado e pode ser iniciado. Nessa fase, podemos considerar que a transformação digital da empresa começou, já temos um ponto forte dentro da empresa que fará a mudança cultural, que fará os colaboradores se transformarem e entenderem que a empresa está evoluindo e que muito dos processos serão mudados, cargos serão alterados e que os processos serão enxugados e digitalizados.

O papel do CEO nesse momento, considerando que ele já tem visibilidade de prazos e roadmap definido, é prover o necessário e o possível para que o trabalho do CTO seja bem executado, se preparar para algumas decisões difíceis no meio do caminho e medir os resultados da empresa considerando o antes e depois das mudanças.

Tentei trazer em um texto de “mil palavras” um pouco de como é um trabalho de digitalização de uma empresa. Trouxe a visão do lado da tecnologia, considerando que é o ponto mais deficitário da maioria dos gestores que não possuem formação técnica. Mas em um processo de transformação digital, temos que considerar também o jurídico, RH, trabalhista, contábil entre outros, não vou entrar em detalhes de cada um nesse momento, mas quero lembrar que: até chegarmos no final do projeto e termos de fato uma empresa tecnológica, grandes esforços são necessários, esforços com clientes e colaboradores, mudança de mindset e cultura, a fim de podermos contar com todos no decorrer do projeto. E o mais difícil com certeza é a cultura e a cabeça dos colaboradores. E no processo, algumas decisões difíceis precisam ser tomadas, visando a perenidade do negócio.

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  • One thought on “Liderança da transformação digital para CEOs sem formação técnica

  1. João Paulo, de fato, as empresas que não buscarem essa transformação, estarão fadadas ao fracasso. Não importa o segmento, e esse será um grande desafio para pequenas/médias empresas que não possuem a alta gestão com esse preparo.

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