FALTA DE EDUCAÇÃO FINANCEIRA AUMENTA DESIGUALDADE EM ERA DE INSTABILIDADE

Nos últimos anos, o cartão de crédito se consolidou como o tipo de dívida mais comum entre os brasileiros

 

Não é novidade para ninguém que o Brasil é um país de desigualdades sociais, econômicas e financeiras. Parte considerável da população está desempregada e outra parcela atua na informalidade, condições que, por vezes, levam os cidadãos a tomarem empréstimos com juros exorbitantes ou a entrarem em dívidas que os tornam inadimplentes.

 

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), temos atualmente a inflação em ascensão (4,29% nos primeiros quatro meses de 2022) e o desemprego alto (10,5% de desempregados no Brasil), além das taxas de juros básicas (Selic) em dois dígitos (13,75%). Esses três fatores combinados levam a uma corrosão no poder de compra do consumidor, na capacidade de honrar dívidas, na instabilidade das finanças pessoais e na necessidade de fontes de crédito de custo mais alto.

 

De acordo com dados da Serasa Experian, a inadimplência também bateu novo recorde no Brasil: em abril, mais de 66 milhões de brasileiros estavam com o nome no vermelho, o maior número da série histórica iniciada em 2016. Deste número, mais de 2 milhões de brasileiros se tornaram inadimplentes em 2022.

 

Com relação ao perfil das dívidas, os segmentos de Bancos e Cartões possuem 28,1% dos débitos, enquanto contas básicas como água, luz e gás representam 22,9%. Na comparação com abril de 2021, o setor de Financeiras foi o que teve maior aumento na participação de inadimplência, indo de 9,6% para 12,4%. Dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) apontam que o endividamento com cartão de crédito atingiu nível recorde entre famílias com maior renda.

 

Nos últimos anos, o cartão de crédito se consolidou como o tipo de dívida mais comum entre os brasileiros. E aí que mora um grande perigo. O uso dessa modalidade deve ser feito somente quando o consumidor tiver renda para efetuar o pagamento da fatura no vencimento. Além disso, deve-se evitar o pagamento mínimo do cartão, pois as taxas de juros cobradas podem chegar a 371% ao ano, segundo dados da Pesquisa Anefac, e jamais deve-se utilizar o limite do cheque especial como forma de crédito (taxas de 150% ao ano, segundo o mesmo levantamento). O problema é que grande parte da população não tem acesso a esse tipo de informação.

 

No Brasil, ensino religioso e química orgânica fazem parte do currículo escolar obrigatório, mas as finanças básicas, por exemplo, não. Juros e porcentagem são distantes para a maioria dos brasileiros. Por conta da ignorância financeira perpetuada em nosso país, é fácil compreender como tanta gente assume dívidas impagáveis, comprometendo seu futuro financeiro. A maioria ignora o efeito brutal dos juros compostos, presentes nas dívidas do cartão de crédito e do cheque especial, por exemplo. Endividados pouco se atentam às decisões políticas que os afetam, uma vez que sua atenção está voltada aos inúmeros boletos e contas acumuladas.

 

Vale reforçar que a tomada de crédito tem que ser uma solução e não a ampliação de um eventual problema financeiro. Uma alternativa para estancar a bola de neve que se cria é buscar negociações com cada operadora ou em alguns casos acessar empréstimos pessoais, com juros mais baixos, para o pagamento das dívidas dos cartões. No entanto, a minimização desses riscos passa pelo consumo consciente como parte fundamental de uma boa educação financeira, especialmente em função da relação entre o consumo e a perda de controle das finanças pessoais.

 

O consumo por impulso leva a uma necessidade de fontes de crédito de custo mais alto, como cheque especial e cartão de crédito e a um nível de comprometimento de renda acima do que é considerado saudável no mercado brasileiro. O consumo consciente e a educação financeira nunca foram tão importantes para o brasileiro da vida real.

 

artigo publicado no portal da Revista Exame

 

 

 

Compartilhar:

WhatsApp
LinkedIn
Twitter
Facebook

Mais artigos

OPORTUNIDADES PARA FINTECHS NA ECONOMIA SUSTENTÁVEL

O evento “3F: Futuro, Finanças e Florestas” destacou a importância da sustentabilidade no setor financeiro e o papel das fintechs na construção de um sistema que integra finanças e responsabilidade ambiental. Em meio às mudanças climáticas, o Brasil busca se posicionar como líder nesse movimento, aproveitando a capacidade de inovação do mercado financeiro para promover práticas verdes. Dois conceitos foram centrais nas discussões: a taxonomia verde e o Bureau de Dados do Agro. Ambos representam pilares para as fintechs desenvolverem produtos e serviços, impulsionando uma economia mais sustentável e inclusiva.

ESG NA LIDERANÇA: A IMPORTÂNCIA DE GESTORES DE SEGURANÇA, FACILITIES E INFRAESTRUTURA ESTAREM ALINHADOS ÀS NOVAS PRÁTICAS

Nos últimos anos, as práticas de ESG (Environmental, Social, and Governance) emergiram como um dos pilares mais importantes da gestão moderna. A crescente conscientização sobre questões ambientais, a responsabilidade social corporativa e a necessidade de uma governança transparente e robusta estão redesenhando o papel de líderes e gestores em todas as indústrias.

TEMPO CERTO, LUGAR CERTO

Em minhas discussões com Higor sobre a captação de startups para a incubadora sempre deparamos com o tema sobre vantagens e desvantagens que temos a oferecer por estarmos em Portugal e principalmente como melhor utilizamos nossas expertizes para concretizar e impulsionar os processos das startups.

SPRINT 039 – DA SALA DE AULA AO PALCO DA INOVAÇÃO: REFLEXÕES SOBRE Web3, BLOCKCHAIN E IMPACTO SOCIAL

Nos últimos meses, tive a oportunidade de me envolver em uma série de eventos que refletiram a transformação e o dinamismo do ecossistema de inovação, sustentabilidade e Web3. Cada um trouxe novos insights, desde as discussões de vanguarda sobre ativos digitais e o papel da IA na Sociedade Brasileira de Inovação, até a rica troca de ideias sobre ESG e impacto social no setor financeiro, explorada no Fórum de Ativos Digitais e no 3F — Futuro, Finanças e Floresta.

Idioma »