Para aqueles que trabalham no varejo é comum ouvir que o último ano bom de vendas foi 2014 e que a partir de 2015 estamos assistindo uma queda do nível real de vendas e aumento dos custos operacionais. Neste cenário, somente os grandes varejistas tem sobrevivido, pois tem escala para negociar aquisições de produtos no mercado interno e externo para garantir sua margem de contribuição – além do poder de negociação para discutir melhores condições de custos locatícios com os proprietários de imóveis em lojas de rua e shopping centers. Para os pequenos varejistas resta o desafio da sobrevivência.
Analisando os dados de desempenho do varejo no último dia das mães, podemos afirmar que o setor de varejo começa a dar sinais de recuperação. Segundo dados do ICVA (Índice CIELO do Varejo Ampliado), as vendas tiveram um crescimento real de 21% em relação a maio de 2021, mas ainda assim, 3% abaixo do registrado em 2019. Apesar das vendas totais apresentarem sinais de melhora, somente os grandes varejistas, com grande capacidade de financiar o consumo no médio prazo, tem surfado essa pequena onda de entusiasmo.
O cenário econômico e social de médio prazo aponta melhoria nas condições para o varejo, com redução das restrições de mobilidade social possivelmente para o 4º trimestre de 2021 e aumento da renda em 2022, devido ao pacote de incentivo de obras e benefícios sociais que o governo federal deve lançar no ano eleitoral.
Nesse artigo vamos falar um pouco sobre os desafios dos pequenos varejistas frente às tendências globais do futuro do mercado de consumo.
Segundo pesquisa divulgada recentemente pela PwC, temos 5 principais tendências:
• A loja do futuro precisa estar integrada numa estratégia multicanal, focada na experiência do consumidor e com grande sinergia entre o mundo digital e o mundo físico;
• A marca vendida pelo varejista precisa estar alinhada com os desejos dos consumidores, com foco na sustentabilidade e no propósito oferecido;
• A cadeia de suprimentos precisa estar totalmente automatizada e integrada, ou seja, o varejista precisa ter um estoque virtual para a operação física e o comércio eletrônico;
• No caso do varejo alimentar vai predominar a produção local, fresca e com produtos saudáveis;
• Varejo deve ser ESG, especialmente na estrutura arquitetônica, operacional e na força de trabalho.
Considerando a realidade do pequeno empresário dono de uma ou duas lojas, o primeiro grande desafio é sua conscientização em relação a essas tendências. Muitas vezes sua rotina operacional intensa, baixa escolaridade e falta de capital, impede os empresários de buscarem o conhecimento. Acredito que entidades como o SEBRAE e Sindicatos de Comerciantes, têm papel fundamental na disseminação desse conhecimento. Penso também que as instituições de crédito podem ajudar, como também os empreendedores do setor imobiliário, na capacitação dos pequenos empreendedores, promovendo essa capacitação e reduzindo seu próprio risco na concessão de crédito ou na inadimplência do recebimento de aluguel por lojistas incapacitados.
Analisando de forma mais profunda as tendências do varejo, podemos dividir os desafios dos pequenos varejistas em:
(i) arquitetônicos, que envolvem acesso a novas tecnologias de design de layout de lojas e novos equipamentos;
(ii) tecnológicos, que envolvem o investimento em softwares de gestão de estoque, força de vendas e CRM para relacionamento com os clientes; e
(iii) de gestão, que envolvem a adequada gestão financeira, o relacionamento com fornecedores e parceiros e o treinamento constante de sua mão de obra.
Para solucionar os desafios arquitetônicos os pequenos varejistas precisam de financiamento de longo prazo dos agentes que atuam na cadeia varejista, sejam os bancos governamentais, bancos privados e as cooperativas de crédito. Para solucionar os desafios tecnológicos penso ser fundamental a atuação das startups tecnológicas, que contam com capital intelectual de qualidade e baixo custo para viabilizar as inovações necessárias. E para solucionar os desafios de gestão os varejistas precisam se habituar a acessar a estrutura de educação e formação das entidades de apoio do comércio varejista.
Em síntese, o ponto chave para o sucesso dos pequenos varejistas é buscar parceiras para financiar a solução de seus desafios estruturais imediatos, que já representa uma barreira quase intransponível em nosso país. Mas principalmente buscar o acesso à inovação em tecnologias na formação de parcerias com startups que solucionem suas dores operacionais que muitas vezes são a principal causa para o insucesso operacional. De forma mais ampla para esse ecossistema funcionar, empresas de venture capital e mentoria, como o caso da KADMOTEK, atuando cada vez mais para fortalecer o elo da inovação em nossa economia.